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1 segundo para a satisfação, NAD C700 e Dynaudio Emit 20

Antes de mais nada e sem rodeios, nem toda a gente está interessada em gastar em alta-fidelidade tanto como em um carro ou até como por uma casa. Sim, muitos de nós gostaríamos de ter um Ferrari, ou até mesmo um Bugatti. Uma mansão com vista para o Lago Como, ou melhor ainda, um T0 na Avenida da Liberdade. Em alta-fidelidade podemos facilmente gastar valores similares.

1 segundo para a satisfação

NAD C700 + Dynaudio Emit 20

Mas neste teste vamos descer à terra e explorar o conjunto composto pelo amplificador tudo-em-um (amp/Streamer/DAC) NAD C700, colunas monitoras Dynaudio Emit 20 e cablagem da AudioQuest. Se estás a ler este artigo, provavelmente é porque gostas de música reproduzida como mereces ouvi-la. Se calhar sonhas ter uma sala de audição dedicada, com acústica cientificamente calculada e tratada. Corrente elétrica produzida por rodas puxadas por machos (refiro-me aos cavalos que puxavam carroças antes dos motores de combustão, e não a homens musculados, depilados e oleados. Mas se preferires essa imagem, por mim tudo bem!), colunas, pratos, e monoblocos com preços com seis dígitos à frente do €uro, streamers e cabos de cinco dígitos, uma cadeira original Eames, dois escravos com abanicos, refrescando gentilmente o ambiente aquecido pela amplificação classe A, e a Grace Jones a dar-te bagos de uva frescos na boca. Tudo a que tens direito!

NAD C700

Já ouvi sistemas de perto de um milhão. Mas nem toda a gente tem uma carteira deste calibre ou vontade de gastar estes números. Aliás, muito poucos. Então, muitos contentam-se com algo que chegue para quando chegamos a casa do trabalho, fechamos a porta, tiramos o calçado, pegamos no telemóvel, e uma décima de segundo depois de escolher o que quero ouvir, as colunas começam a bombar música, como merecemos ouvi-la. É isto parte do que o NAD C700 nos proporciona. Satisfação imediata! Não é isso que procuramos?

BlueOS

Ao nível do que vamos falar hoje, acho que o principal a considerar é o aspeto prático. E aqui, o cérebro do amplificador integrado/streamer/DAC NAD C700, BlueOS, se não é perfeito, está lá perto. Dois minutos na primeira vez para instalar e emparelhar a aplicação no telemóvel, tablet ou computador, e menos de um segundo para por o sistema a cantar.

Tão simples como isso, chegar a casa, escolher a música no telemóvel, e em menos de um segundo, o NAD acorda, e as colunas começam a bombar, com a capa e nome do disco e faixa no painel do amplificador. Ah! E o amplificador cabe em qualquer lado. Nada de racks XPTO, construídas em materiais aeroespaciais, por virgens albinas numa oficina no Tibete.

Claro que a cada salto de qualidade num sistema de som, somos banhados pelo leite de cabra e massagens tailandesas audiófilas High-end do crescente palco sonoro, foco, nuances, doces e cristalinos agudos, melosas e texturadas vozes femininas e pujantes e definidos graves. De tudo isto e mais, a minha alma se alimenta sempre que pode. Mas…

Alguém conhece as ilhas no Porto? Mais não são que duas filas de casinhas, todas viradas para o mesmo corredor central, comum, a seguir a uma entrada única, comum, e nos tempos idos, com uma casa de banho única, comum. Para partilhar por todos, no fim do corredor.

Agora, maior parte de nós vive em ilhas, mas ao alto. Entrada também comum. Escadas comuns. Todos a viverem com paredes comuns. Só as casas de banho passaram a ser particulares. Ainda assim com tubagens comuns.

NAD C700

Nas ilhas ao alto, como nas ilhas do Porto, o espaço não abunda, então os componentes áudio que ocupem 43cm só à largura, podem ser demais para o espaço exíguo.

A NAD conseguiu enfiar pré-amplificação e amplificação classe D, DAC, streamer e painel frontal de 5 polegadas, numa só caixa com 218 x 96 x 266 mm e 4,8kg de alumínio revestido a plástico. Só precisa de colunas e internet.

E de música, claro. Muita música. Da boa. Daquela que te faz vibrar, chorar, rir, dançar, sonhar. Daquela que te faz sentir vivo. E feliz. Porque no fim de contas, é isso que importa.

NAD C700

O amplificador tem 80W a 8 e 4 Ohms, o que é mais do que suficiente para fazer as colunas cantarem e os vizinhos reclamarem. O streamer é dirigido pela app BlueOS, que é uma maravilha de simplicidade e eficácia. Tem saída para Subwoofer, para quem gosta de sentir o chão a tremer e a campainha a tocar. O DAC converte ficheiros até 24bit/192Mhz, o que significa que pode reproduzir tudo o que existe por aí. Airplay e Chromecast, para quem quer mandar a música do seu dispositivo preferido. Control de voz Siri e Alexa, para quem não quer mexer um dedo. Ligação à rede por Wifi (menos um cabo). Tem ainda duas entradas de linha analógicas para podermos ligar o leitor de CD, se ainda tivermos um, e o gira-discos, retornado do nevoeiro. Uma funcionalidade apreciada pela minha filha mais velha, e os seus auscultadores sem fios, foi o Bluetooth bi-direcional, que lhe permite ouvir a música do amplificador sem incomodar ninguém. Ou quase ninguém, porque eu gosto de ouvir a música dela também (se for Queen, como de costume). 

Dynaudio Emit 20

As colunas presentes foram as Dynaudio Emit 20, ligadas ao NAD por cabos Audioquest type 5. Para não desvirtuar o espírito da coisa, usei os cabos de corrente genéricos fornecidos pela NAD.

A construção destas colunas é tipicamente nórdica: sóbria, discreta e robusta. Estão simplesmente ali, inertes, como pilares, a segurar o edifício musical, sem chamarem a atenção para si próprias, apenas transmitindo a música aos presentes, o melhor que sabem e podem. Afinal não é para isso que são feitas as colunas? 

Dynaudio Emit 20

Pretas, e com cerca de 10kg cada. Se lhes batermos com os nós dos dedos, cantam como umas colunas bem construídas e travadas cantariam, porque são bem construídas e travadas. Trazem mufflers para enfiar nos pórticos traseiros e abafar os graves, ou para quem as queira colocar mais perto da parede da frente. Eu tive-as a 1,30m… a esquerda a 90cm da parede lateral e a direita a 1,15m (condicionantes da minha sala), medidos aos cones. Tenho a esposa perfeita ou não?

Com este sistema aconteceu o que deveria acontecer com todos os sistemas, ouviu-se mais música, e para entretenimento, e menos para audição crítica. Então tive normalmente o filho mais novo (4 anos) e a do meio (10 anos) a dançar na sala. E o meu coração nas mãos, que as queria devolver inteiras à Smartaudio… as grelhas são magnéticas, práticas e… pretas. Para aqueles que não apreciam colunas pretas, como eu, existe em branco ou revestidas a nogueira.

Audioquest Speaker cables Type 5

Os cabos de coluna da Audioquest, são flexíveis que baste, revestidos a tecido preto (…) e aparentam ser bem construídos. Ficamos com a ideia que ficarão connosco para a vida se assim o quisermos. E neste sistema, não ficaram nada envergonhados com o outro set de cabos que tenho cá por casa. Esses mais parecem cabos de âncora de um navio, pouco flexíveis, e a custar mais que as colunas aqui em teste… Mas isso são outras histórias

O que andei a ouvir.

Estou com 48 anos, e nas fotografias na praia, de tronco nú, destaca-se o meu músculo abdominal único, o meu Keg. Ao sábado, em vez de ir para para as lojas hifi, devia ir para o ginásio trabalhar para um six-pack.

Dynaudio Emit 20

Quando tinha 13 anos, e nas fotografias de então, sempre com aquele olhar a imitar o das bandas nacionais nas capas de discos, já tinha os mesmos metro e setenta e cinco, menos vinte kg, e em vez do meu barril, o que saltava à vista eram os teclados formados pelas minhas costelas salientes. A minha mãe não me dava fome, pelo contrário, apenas cresci de repente…

Isto para dizer que testei as minhas monitoras Triangle Borea 03 com o NAD, para efeitos de “side by side comparison” como se justifica e está na moda, e o casamento destes elementos fez a mesma figura que eu nos anos oitenta do século passado: magrinho, ou melhor, o som é que era um bocadinho para o magro. Expressivo!, mas magro. As Dynaudio, com o NAD, fazem mais a minha figura atual, com muito mais substância, alguma no abdómen é certo, para isso é que vêm fornecidas com os mufflers, para vestir a cinta àqueles graves mais volumosos, depois daquelas almoçaradas à transmontana. Aqui poderei estar a ser demasiadamente preciosista, como é de bom tom da parte de um audiófilo empertigado, como tenho de admitir que sou.

Normalmente ouvi com os mufflers postos, mas não resisti a ouvir “7” de Prince sem eles, e com toda aquela energia (picos de 80dB) a brotar das Dynaudio. Dei por mim a abanar o capacete ao som de Prince. Aqui dependendo do gosto, cada qual irá jogar com a distância das colunas à parede da frente, e com os mufflers colocados ou não, para atingir o ponto G dos graves, pois é aqui que reside, uma das grandes qualidades da sinergia deste sistema.

Os tweeters são doces, requintados e reveladores, tanto do pormenor, como do palco sonoro. Tive de apertar um pouco o toe-in das colunas em relação ao costume, para obter o mesmo nível de foco das Triangle. O palco é ligeiramente mais largo que o espaço entre as colunas, e com alguma profundidade. De facto o casamento entre o NAD e estas Emit 20 é muito feliz. Temos nuances, temos pormenor, e normalmente graves e agudos à frente e médios um pouco atrás (ou nem sempre, a guitarra de Brian May saltou bem para a frente em Good Old-Fashioned Lover Boy).

NAD C700

Dica para outro audiófilo empertigado como eu, e possa ter vontade de fazer crescer o seu sistema mais à frente: tive a oportunidade de ligar as Emit 20 ao integrado i25 da Primare, um amplificador também classe D, mas um patamar acima (no preço também), e posso assegurar que temos aqui colunas capazes de crescer com o sistema. Em Romeo e Julieta, de Prokofiev, reproduzido com impressionante sentido de escala, com o doce e texturado canto do violino de Lisa Batiashvili, com todas as nuances da sensível interpretação da Georgiana. Também testei com o NAD nesta mesma faixa, e houveram diferenças, ainda que se calhar só perceptíveis por terem sido duas audições seguidas. Teria ficado perfeitamente feliz com o NAD.

Resumindo e concluindo

este sistema é uma boda feliz. Tivemos facilidade de utilização e baixa pegada volumétrica. Com um som mais que gratificante, satisfatório e de um nível definitivamente audiófilo. Não ponho dúvidas que será por streaming que os felizes donos de um C700 irão consumir se não toda, pelo menos a grande parte da sua música. E por menos de dez euros por mês temos praticamente toda a música disponível no mundo à distância de um clique

Se já ouvi melhor? Sem dúvida. A que preço? Pois aí é que a porca torce o rabo. Quanto custa este? Mais ou menos dois mil e quinhentos euros! E por menos de dois salários médios nacionais, um sistema inteiro de nível audiófilo, em que para dar um salto em qualidade justificável, precisamos de muito mais caixas na prateleira, e de pagar tanto como por um carro. Ou por muita, muita música em suporte físico. Tanta como consumimos por streaming.

NAD C700 + Dynaudio Emit 20 + Audioquest type 5

Da boa. Daquela que te faz vibrar, chorar, rir, dançar, sonhar. Daquela que te faz sentir vivo. E feliz. Porque no final de contas, é isso que importa.