O 6º aniversário da loja da Ultimate Audio no Porto foi, para mim, um evento marcante, com a demonstração de dois sistemas que representaram conceitos diametralmente opostos. De um lado, o integrado a válvulas 300B da Western Electric emparelhado com as colunas field-coil da Wolf Von Langa; do outro, os dominadores monoblocos Halcro, a alimentar as imponentes colunas Zellaton. Com este nível de excelência, a expectativa para o evento de Lisboa, celebrando o 14º aniversário da casa, era imensa.
A Ultimate Audio transformou o espaço da sua loja em Lisboa numa verdadeira montra de excelência, com três salas dedicadas a sistemas stereo. Como no Porto, cada detalhe foi pensado para proporcionar uma experiência única, desde a receção calorosa – reforçada pela presença de Francisco Monteiro, o anfitrião da loja do Porto – até à performance sónica dos sistemas em exibição.
O Menu Servido
Sala 1:
Logo à entrada, a nova sala de demonstração apresentou o integrado a válvulas 300B Western Electric 91E com as colunas Avantgarde Colibri, complementadas pelos subwoofers Perlisten Audio D212. No digital, os Cinnamon Audio Galle transporte e DAC II; no analógico, o gira-discos MasterDeck da MoFi, equipado com célula ótica e equalizador DS Audio E-3. O sistema contou ainda com cablagem Esprit High-end e corrente tratada pelo Isotek Elektra.
Sala 2:
Aqui encontramos as Marten Mingus Septet, alimentadas pelos estreantes monoblocos 1151 da Boulder, comandados pelo pré-amplificador 1110 da mesma marca oriunda da base das Montanhas Rochosas. Nas fontes: o DAC (em estreia) Horizon 360 da LampizatOr, a receber o sinal do servidor Xact S1 Evo, da J-Cat (este equipamento, também novidade por cá, alterna as funções de servidor ou switch). O vinil esteve a cargo do prato nº01 (de 45) do Clearaudio Master Jubilee, com célula e equalizador DS Audio W3. A cablagem? Siltech Doble Crown.
Sala “Principal”:
No espaço principal da loja, o sistema já ouvido no Porto voltou a brilhar: as Zellaton Plural Evo, alimentadas pelos monoblocos Halcro Eclipse, foram desta vez acompanhadas pelo pré-amplificador G-1000i da Kondo Audio Note e pelo conjunto Reference da Wadax, com servidor, transporte, DAC e PSU. Da Silent Angel, o Clock Genesis GX, PSU Forester FX e Switch Bonn NX. A cablagem, Esprit Le Esprit, Siltech MasterCrown, Siltech Royal Crown e Crystal Cable Monet, o tratamento de energia a cargo do Isotek Super Titan e terra pelos Entreq Olympus.
Os Destaques do Evento
Novidades, lançamentos, equipamentos exclusivos e estreias em Portugal, como tem sido mote nos eventos desta casa. Se tenho algum destaque a fazer? Na verdade todos os três sistemas em demonstração se evidenciaram, por diferentes razões:
Sala 1: Musicalidade Intimista, e não só!
Na sala “1”, da “entrada” (palavra que aqui tomou dois sentidos), tivemos a demonstração de como um integrado 300B pode ultrapassar os seus limites tradicionais. E as Colibri, apesar de serem uma entrada mais acessível à Avantgarde, não pouparam em musicalidade e dinâmica. O par de subwoofers trouxe uma nova dimensão à performance.
Jorge Gaspar, o anfitrião, arriscou fugir aos clichés sonoros habituais neste tipo de configurações, passando de “Odyssey” de Spiffy Man a “Los” dos Rammstein, que todos conhecem por ser um grupo que faz as aberturas para o Coro de Santo Amaro de Oeiras. A dinâmica excecional do conjunto em “Det Tänds Ett Ljus” de Christian Jormin 3. Mas Jorge Gaspar não desiludiu a quem viesse à procura dos clássicos, e serviu um bouquet de vocais, de Chantal Chamberland, Sete Lágrimas, Mália e Dead Can Dance. E também Serena Kaos a convidar-nos a uma aventura dos sentidos com a “Canção de Engate”.
Sala Principal: Força e Emoção
Na sala principal, o sistema Zellaton + Halcro reafirmou tudo o que já tinha sido experienciado no Porto, com o toque adicional de detalhe proporcionado pelo conjunto Wadax (como se este sistema já não tivesse provado, no Porto, a sua capacidade de escavar até os menores detalhes).
Miguel Carvalho soube, mais uma vez, puxar pelas emoções, com interpretações como “Ó Gente da Minha Terra”, com Mariza ao vivo, em Benfica, não em Belém. E depois, sem dar descanso ao coração, pelo menos o coração deste vosso tripeiro, com “Porto Sentido” desta vez por António Zambujo & Miguel Araújo, também ao vivo, no auditório principal da Ultimate Audio, em Benfica. A fórmula usada no Porto, duas semanas antes repetiu-se. Até porque em equipa que ganha não se mexe. Aqui engrandecida por quatro esculturas Wadax, que também tocam música.
Sala 2: Precisão e Escala. E Emoção
A sala “2”, cá entre nós que ninguém nos ouve, foi a que mais me impressionou musicalmente. Surpresa! Estavam à espera que eu preferisse os Avantgarde + WE + Cinnamon, certo?
Confesso, suspeito que talvez esteja a atravessar um “momento Boulder”, amplificadores a que se acrescentaram as capacidades do par de colunas da Marten, fabricante que nunca cessa de me impressionar, aqui com a ajuda do DAC Horizon 360 da LampizatOr. O design de Łukasz Fikus já me tinha impressionado no Equinox, da Fezz Audio, por “apenas” €2500. Neste caso o valor pedido escreve-se com cinco dígitos. Naturalmente, e normalmente (mas nem sempre) o que é entregue, é superior. Aqui a promessa foi cumprida, e de que maneira!
Este sistema não só soou “musical”, mas também transparente como uma montra para a música, onde nenhum pormenor, nenhuma textura, nenhuma nuance, ficou por revelar. E também soou grande. E por grande refiro-me a realmente ENORME. Em palco e profundidade. Mas bem que me poderia esquecer de vos mencionar, porque aqui, as salas “principal” e 2 se degladiaram em levar a medalha do palco sonoro. Como na escala e domínio que estes sistemas demostraram sobre a música e as salas onde ela tocou. Exemplos do que se ouviu e do que acabei de descrever foram “Fanfare for the Common Man” por Minnesota Orchestra & Eiji Oue, e “Thora Vukk” de Robag Wruhme.
Então a comparação com o Porto? Perguntarão os que puderam estar no Porto e não puderam em Lisboa.
Porto vs Lisboa – Complementaridade ou Contraste?
Como é óbvio não me irei repetir descrevendo o evento que ocorreu no Porto duas semanas antes, até porque podem encontrar o relato aqui. No Porto estiveram dois sistemas que falaram duas línguas diferentes, ambos apontados a mover o ouvinte, mas de formas radicalmente diferentes. Um apontado diretamente ao coração, qual seta de cupido, o outro a chegar lá com a escala de uma grande produção de Hollywood.
Lisboa tem a facilidade de ter mais salas dedicadas especificamente aos setups stereo. E serviu um menu com 3 abordagens diferentes. Passamos da “honestidade emotiva” das field-coil Wolf Von Langa, para as cornetas Colibri. Que suspeito atinjam rapidamente o estatuto de best-sellers. Com a confirmação da confirmação Western Electric 91E.
Depois, nos outros dois sistemas que se degladiaram em qual teria mais escala, domínio e procura da musicalidade. Poderíamos resumir a experiência em analogias automóveis baratas: o sistema Zellaton + Halcro é o muscle car com motor V8 americano: visceral; o sistema Marten + Boulder é o supercarro italiano, com V12 refinado e elegante. Ambos entregaram sensações inesquecíveis, cada um à sua maneira.
No fim, o evento foi mais do que uma demonstração de sistemas – foi uma celebração da música e da paixão que ela inspira, um verdadeiro presente para os amantes da alta-fidelidade. Obrigado Ultimate Audio!
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