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6º aniversário Ultimate Audio Porto – uma, duas, experiências sensoriais

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O 6º aniversário da loja do Porto da Ultimate Audio foi uma celebração da paixão pela música e pela alta-fidelidade. Cada nota pareceu atravessar o espaço, tocando o coração dos presentes.  O evento trouxe consigo dois sistemas de som quanto a mim extraordinários: duas salas, duas atmosferas, duas viagens sensoriais, em que os presentes se renderam ao poder dos equipamentos. Equipamentos que transformaram a música em emoção.

Duas salas, duas experiências distintas

As instalações da Ultimate Audio no Porto, ali ao pé de Serralves, dispõem de duas salas de audição. Uma preparada para demonstração de sistemas stereo, e outra destinada a sistemas home-cinema, com o tratamento acústico reforçado para maximizar a absorção, como é comum neste tipo de setups. Num espaço com tanta absorção acústica, a escolha de um sistema amplificado pelo Western Electric 91E, um integrado Single-ended com uma válvula 300B por canal, poderia ter sido arriscada num espaço com tanta absorção acústica. Mas revelou-se uma escolha brilhante.

Tecnologia e tradição em simbiose

A amplificação foi assegurada pelo Western Electric, um integrado que tinha visto em exposição duas semanas antes, nas Ultimate Sessions Budget Beats, em Lisboa. As colunas eram as Wolf Von Langa 12639 Son, equipadas com altifalantes Field-Coil em vez de ímans, uma tecnologia abandonada há décadas devido ao seu custo, mas agora ressuscitada por este fabricante alemão. Os tweeters AMT estão montados em placas acrílicas seguras por suportes magnéticos, cuja posição é ajustável, permitindo configurar o palco ao gosto de cada ouvinte. O alinhamento temporal é fácil de encontrar; basta usar uma caixa de CD como bitola! É possível configurar o palco de som para maior foco ou dispersão, simplesmente ajustando a posição do tweeter.

As fontes foram o streamer NT-07 e leitor de SACD D-07X da Luxman, aqui usado apenas como conversor. Os cabos foram os Siltech legend 680 e os Crystal Ultra 2 Diamond.

O integrado 91E da Western Electric, icónica fabricante americana de válvulas, agora ressuscitada, tem até 20W de potência (Sim, 20W com uma válvula 300B por canal!). Isto é possível devido ao uso de uma fonte de corrente linear controlada pela válvula, eliminando a necessidade de transformadores de saída tão massivos como em outros amplificadores, reduzindo distorções e permitindo uma potência de entrega muito maior do que o habitual numa 300B, sem os riscos normalmente associados a tal.

Este setup já era interessante, não só pelas características tecnológicas dos equipamentos, mas também pela forma como o sistema se comportou numa sala com tanta absorção. Este desafio foi superado, e fica a expetativa de como se comportará num espaço que não tenha sido pensado especificamente para home-cinema. Outra questão é como soaram as colunas Field-Coil e se a tecnologia de ponta presente no 91E alteraria o som esperado de um amplificador com válvulas 300B. Vamos descobrir? Prometo que a terminologia técnica termina por aqui!

O que se ouviu por lá

Quando entrei, tocava “Alternate One” de Clark Terry. A sensação imediata foi de micro-detalhe, texturas e sentido orgânico da música. Até o trompete de Paolo Fresu, em “Que Reste T’il De Nos Amours,” perdeu o caráter “afiado” que outros sistemas costumam entregam. Será este tweeter capaz de transformar metais em madeira? Coisas que se experienciam numa audição e que, transmitidas em texto, talvez percam o sentido…

Já mencionei antes que talvez o instrumento acústico mais complicado para um sistema de alta-fidelidade seja o piano. Quando tiverem a oportunidade de ouvir “Nocturne, B-Moll, Op. 9, No. 1: Larghetto” por Adolf Drescher neste sistema, não recusem: é algo que, provavelmente, só ao vivo poderão sentir. Até a ressonância da tampa harmónica esteve lá, ao lado de Serralves.

As crinas de cavalo dos arcos da secção de cordas choraram em “Carmen Fantasy, Op. 25: Introduction. Allegro moderato” por Anne-Sophie Mutter. Quem procura válvulas 300B quer um som rico e cheio, com as vozes e instrumentos acústicos mais salientes (“When Things Go Wrong” de Archie Shepp), graves bem definidos e naturais (“Lost Without You” de Freya Ridings), timbre aveludado e imagem ampla e profunda (“Thanks To You” de Boz Scaggs). Este Western Electric, com a ajuda das WVL, cumpriu tudo isso com distinção. “Soft Landing” de Hadouk Trio foi uma boa prova disso.

O som desta sala transportou-nos para paisagens sonoras bem diversas. Que surpresa! Seria este sistema a arma secreta? Seria o conjunto WE + WVL na sala “secundária” a imagem de um Ronaldo a saltar do banco para resolver uma partida? Que hipótese teria o sistema “principal” depois de uma performance destas?

No auditório principal

Entrei no auditório principal no momento certo, enquanto Mariza cantava ao vivo “Ó Gente da Minha Terra.” No momento seguinte, a intérprete pausa para se recompor. Juro que senti os presentes, na sua maioria homens da minha idade ou mais velhos, a a fazer o mesmo esforço para controlar o aperto no peito, porque, afinal, um homem não chora… eu disse que estava lá ao vivo? Não estava. Mas parecia.

O sistema era impressionante, não apenas pelo som, mas também visualmente. As colunas Zellaton Plural Evo, como massivos pilares na paisagem de Nuremberga no filme Triunfo da Vontade de Leni Riefenstahl, acompanhavam os monoblocos Halcro Eclipse, o leitor de rede e servidor Wadax Reference Server, o DAC nacional de duplo chassis Cinnamon Galle II em estreia mundial absoluta, o giradiscos Torqueo T-34 com braço Ikeda IT307, a célula DS Audio W3 e o pré-amplificador Boulder 1110. Tudo do bom e do melhor, portanto.

O prévio 1110 da Boulder foi fácil de destacar pelo seu papel de facilitador e montra transparente para a música, destacando-se tanto neste evento, como no sistema apresentado na semana passada (relato aqui).

O que se ouviu por lá

Quanto ao sistema, cinco palavras: Dinâmica, Escala, Potência, Músculo, Autoridade! Ouça-se “Ratchets” de HEDEGAARD. Tudo isto sem perder a capacidade de transmitir emotividade (“Tears In Heaven (Live)” de Eric Clapton, com a guitarra acústica a estalar e a voz do intérprete a servir como janela para a sua alma rasgada).

A comparação entre as salas, a uma distância de apenas cinco segundos uma da outra, ajudou a perceber a intensidade com que dois conceitos radicalmente diferentes podem transmitir o poder da música de formas distintas, mas igualmente válidas. Esta experiência desafiou o meu caminho pessoal em termos de gosto, lembrando-me que o mais importante é a experiência sensorial que estes equipamentos permitem. Afinal, não é isso que realmente importa na música?, como em “My Funny Valentine (feat. Sting) [Live Audio from The Wilshire Theatre]” de Chris Botti. Aqui numa experiência absolutamente deliciosa.

Estas colunas e estes monoblocos são puro rock n’roll! Os transientes e o caráter físico dos graves impactam os sentidos (“Jean Pierre” de Marcus Miller), aproximando-se da experiência ao vivo. Se na sala ao lado é esse caminho que se procura, com instrumentos acústicos, aqui na sala maior, a experiência já consegue imitar a experiência ao vivo com instrumentos amplificados. Embora seja esta a sensação imediata não esqueçamos que, por exemplo, em “Purple Rain (Acoustic)” de John Adams, a reprodução de piano foi igualmente realista. A procissão de instrumentos em “The Heroic Weather-Conditions of the Universe, Pt. 7: After the Storm” de Alexandre Desplat, tal como em “Tubular Bells” foi delicioso e realista.

O que aprendi?

Nestas duas semanas, aprendi mais uma lição nome percurso na Alta-Fidelidade. Mais uma. Se, ultimamente, tenho procurado sobretudo o tempero, agora volto a focar-me na qualidade pura dos ingredientes. Quanto menos os elementos se colocarem à frente da música, melhor.

1 comentário em “6º aniversário Ultimate Audio Porto – uma, duas, experiências sensoriais”

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