Imacústica Saturday Mornings, Aladdin Sane – David Bowie
Aladdin Sane de David Bowie, cumpriu também meio século este ano, e foi o segundo disco a merecer honras de celebração na Imacústica com as nomeadas “Saturday Mornings” no passado sábado 17 de junho, no auditório principal no Porto do distribuidor de material de alta-fidelidade.
Normalmente nestes eventos utilizam-se músicas impecavelmente gravadas e masterizadas, capazes de demonstrar a cada nota as capacidades de reprodução dos equipamentos presentes. O segundo disco da trilogia começada pelo disco onde Bowie atingiu o zénite da fama: “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars”, não é propriamente o disco ideal para demonstrações de equipamentos superlativos de reprodução de áudio, numa produção claramente mais preocupada na questão artística, que na técnica.
Na minha opinião residiu precisamente aí a magia deste evento. Claramente pensado para celebrar a música, e não apenas as qualidades do equipamento presente. No nicho de mercado que é o high-end áudio, onde por vezes fica a sensação que a audiofilia parece prevalecer sobre o amor à música (É com vendas concretizadas que se pagam impostos, despesas, e custos de operação. É com vendas que se mantêm portas abertas). Por isso, kudos para a Imacústica pela coragem.
Voltando ao evento.
As estrelas do lado do equipamento foram as colunas Sonus Faber Aida, cabos de coluna Nordost Odin 2, etapa de potência stereo Audio Research Reference 160S, prévio Audio Research Reference 6 SE, prévio de fono do mesmo fabricante modelo Reference Phono 3 SE a acompanhar o prato TechDAS Air Force equipado com braço Michell e cabeça Sumiko. tudo interligado com cablagem Nordost. Mencionada foi também a máquina de limpeza de vinil Pro X da Audio Desk, com que se preparou esta audição.
O cicerone de serviço, tal como no evento dedicado a TDSOTM, voltou a ser Carlos Saraiva, profundo conhecedor da obra. Kudos também para ele e para a sua disponibilidade.
O título do disco é um trocadilho para “A Lad Insane”, que especula-se ser dedicado ao irmão de David que sofria de esquizofrenia. A maioria das faixas foram escritas durante a digressão de “Rise and Fall…” nos EUA. Devido à influência americana e à composição em ritmo acelerado, o disco apresenta um som de glam rock mais duro e pesado do que seu antecessor. As letras refletem o recém estrelato de Bowie, bem como a decadência urbana, drogas, sexo, violência e morte. A capa é uma das mais icónicas de sempre, e na altura a mais cara de produzir.
Além de Bowie, destacam-se a guitarra de Ken Scott, o baixo de Trevor Bolder e a bateria de Mick Woodmansey, mas especialmente o piano de Mike Garson, que se revelaria especialmente influente no experimentalismo de Bowie a partir daí.
O peito, dinâmica e pujança, e ao mesmo tempo compostura e adição de alguma doçura, (bem pois por vezes Bowie vai longe demais nas altas frequências, na minha opinião estritamente pessoal), do conjunto Audio Research/Sonus Faber esteve evidente na faixa título, em “Cracked Actor” e Jean Genie. Nesta última, e em “Time” também muito bom trabalho a revelar as nuances e a manter tudo minimamente no mesmo “comprimento de onda”.
O Camaleão do Rock caminhou várias vezes por caminhos histriónicos, uns mais felizes que outros. Em Aladdin Sane moram alguns deles. É aqui que entra a importância de equipamentos capazes de um nível de reprodução superlativa. Se é verdade que a produção deste disco guinou para um som por vezes “sujo” e duro, é verdade também que a capacidade demonstrada pelos equipamentos presentes, pela sua transparência e dinamismo, mas também pela sua capacidade de adoçar na medida certa o (por vezes) amargor, sem nos filtrar às paisagens sónicas e emocionais pintadas pelo artista.
Agora vem o período de férias, com ele a pausa nos eventos da Imacústica e a “Silly Season”. Alguns vão andar preocupados com as últimas transferências do Benfica, ou se Conceição fica ou sai. Outros ainda, estarão preocupados com a meteorologia nas Caraíbas, e onde deixar o cão nas férias.
Passado o verão, fica a promessa da Imacústica de retomar as Saturday Mornings.