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Volumio Primo: Será Mesmo Preciso Ir Mais Além?

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Recentemente, referi-me a um outro streamer como “O Node veste Prada“. Seguindo essa mesma linha de pensamento, os produtos da Volumio — RivoIntegro e Primo — com a sua elegância discreta e neoclássica, poderiam muito bem ser vestidos por Armani.

Volumio Primo II Streamer
Volumio Primo II

Volumio Primo é uma peça bem esculpida, feita em duas partes de alumínio: uma envolvente, que cobre o topo e as laterais até aos pés, rematada pela peça da base. A frontal é de plástico com acabamento a imitar madeira, onde encontramos o botão central com LED. Este indica o estado do dispositivo: vermelho quando está em stand-by, azul quando está ligado e verde durante o processo de arranque ou reinício.

Primo é um streamer com DAC integrado (chip ESS 9038Q2M para quem se interessar – o importante não é o chip, mas a sua implementação). Ele recebe os dados binários a partir de várias fontes: Ethernet, Wi-Fi, Bluetooth e até MicroSD, através de um slot dedicado. Inclui também duas portas USB (2.0 e 3.0), para acessórios, armazenamento ou leitores de CD (com capacidade de ripar), bem como DACs USB, HDMI (para visualizar o interface de controlo com a ajuda de uma TV) e uma saída coaxial para um DAC externo. As saídas analógicas são balanceadas (XLR) ou single-ended (RCA). O Primo suporta ficheiros PCM em todos os formatos conhecidos até 24bit/192kHz, e até 32bit/768kHz ou DSD256 na saída USB, bem como DSD256.

Volumio Primo II

A Interface do Volumio: Uma Nova Perspectiva

Como já mencionei antes, a interface de utilizador (UI) é uma parte crucial de qualquer avaliação de um streamer. Até agora, todos os sistemas que testei seguiam a lógica dos sistemas operativos móveis (sim, Eversolo, estou a olhar para ti!). E isso não é negativo, antes pelo contrário. No entanto, a Volumio optou por seguir um caminho diferente, o que pode ser explicado pela sua história. Lembro-me de, pela primeira vez que ouvi falar da marca, foi devido ao seu software, amplamente utilizado na comunidade DIY, que cria servidores e streamers a partir de microcomputadores.

Volumio Primo II

Fazer a ponte entre plataformas pode implicar uma curva de aprendizagem. A transição para o Volumio foi uma experiência familiar, embora não isenta de desafios. Depois de instalar a app no meu iPhone, o Primo inicialmente não foi reconhecido na rede. Curiosamente, no telemóvel da minha esposa, também um iPhone, a app descobriu o dispositivo sem problemas, o que sugeriu que o problema estivesse no meu telefone — um “campo minado” de instalações e desinstalações sucessivas de apps, com os típicos rabos de gato deixados pelo caminho.

Para contornar este problema, percebi que podia usar o Primo diretamente através do browser, acessando http://volumio.local a partir do telemóvel, tablet ou computador. E, para ser honesto, esta solução também pode evitar os possíveis conflitos entre a app e o sistema operativo sempre que se dão as suas atualizações.

Desempenho e Flexibilidade do Software Volumio

Já dizia Fernando Pessoa sobre a Coca-Cola: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. O design da interface é claro e intuitivo. A página inicial facilita o acesso à playlistbiblioteca de músicaestações de rádio e serviços de streaming. O Volumio oferece integração nativa com plataformas como Tidal e Qobuz, e até suporta o Apple Music via Airplay, que utilizei sem a necessidade de instalar qualquer plugin.

A flexibilidade é um dos grandes trunfos do Volumio Primo. Com várias opções de configuração e a capacidade de instalar plugins, o sistema sobressai, mesmo quando comparado com outras soluções. O Volumio bateu-se de frente, trazendo uma abordagem diferente mas igualmente competente.

Volumio Primo II

Comparação de Streamers: Como se Saiu o Volumio Primo?

Para a avaliação do Volumio Primo, usei como amplificação o Pier Audio MS 480-SE (review aqui) e o Marantz Stereo 70s (review aqui). As colunas utilizadas foram as Triangle Borea 03 e as Bowers & Wilkins 607 S3.

Comparei o Volumio Primo com três outros streamers: o Denon DNP-2000NE, o Eversolo DMP-A6 Master Edition (frente-a-frente aqui) e o Primare NP5 Prisma MkII, que não tem DAC integrado e foi testado em conjunto com o Fezz Equinox by LampizatOr (review aqui). Este último conjunto, com um preço total de 3100€ (2500€ para o DAC e 600€ para o transporte), coloca-o numa liga completamente diferente no que diz respeito ao preço.

Em comparação com a parelha Primare e Fezz, a diferença de preço torna a comparação injusta, bem como a clivagem no nível de detalhe, palco sonoro e sentido orgânico que a música atinge, proporcionado por este conjunto. 

Já em relação ao Denon e ao Eversolo, propostos por 1600€ e 1300€ respetivamente, o Volumio Primo coloca-se em pé de igualdade com ambos. Gostei da flexibilidade e capacidade de evolução do Eversolo, e combinado com determinados equipamentos, a sua performance sonora foi algo magra, a tender para o cansativo, especialmente em sessões prolongadas. Em contraste, o Denon foi mais equilibrado e versátil, agradando em qualquer combinação. O Volumio Primo, para minha surpresa, geralmente superiorizou-se na qualidade sonora, especialmente em comparação com o Eversolo.

O Que Andei a Ouvir

Volumio Primo integrou-se muito bem com o Pier Audio, com o conjunto a proporcionar um som entusiasmante, equilibrado e neutro. Não o classificaria como “quente”, mas também não o achei “frio”. A minha percepção foi de um som realista. Durante as audições, muitas vezes me esqueci de que estava a ouvir uma fonte digital, o que, na minha opinião, é o maior elogio que se pode fazer a um equipamento.

A reprodução foi clara, com um bom nível de detalhe, som cristalino e transparente, com boa extensão tanto nos graves como nos agudos. Os graves, embora a pender ligeiramente para o seco, tiveram impacto e textura razoável. Os médios, por outro lado, mostraram-se ricos, com um timbre muito mais natural, especialmente em comparação com o Eversolo DMP-A6 Master Edition. Os agudos foram luminosos e arejados, sem a habitual “dureza” digital encontrada em equipamentos desta gama de preços. 

Volumio Primo, com uma apresentação detalhada, na linha do que o Eversolo DMP-A6 Master Edition também apresentou, mas com o italiano a atingir uma tónica mais fluida e envolvente. A nitidez na reprodução dos instrumentos foi muito interessante. A tonalidade do piano em “Lágrima” de Maria Bethânia e a definição e textura do saxofone em “Whisper” dos Morphine foram excelentes. A interação com a música é emocional, permitindo captar as nuances subtis nas vozes e instrumentos, como em “I Feel You” de Melanie de Biasio. O baixo em “Psycho Killer” dos Talking Heads, embora mais seco que no Fezz Equinox by LampizatOr, aproximou-se por vezes no control e dinâmica, mas com menos “chicha” na gama média, onde o Primo demonstrou uma excelente transparência. Com agudos radiantes e um som leve. Embora em algumas gravações as gamas médias altas (guitarras distorcidas) possam aproximar-se perigosamente do cansativo, como em “Tubular Bells” de Mike Oldfield, o Primo nunca chega realmente a ser áspero ou fatigante.

Em resumo, a assinatura sonora do Primo é neutra, mas ao mesmo tempo, oferecendo uma experiência envolvente, natural e realista, com uma proposta de alto desempenho sem comprometer a imersão e a riqueza sonora, sendo preciso um salto substancial no valor de compra para um claro salto na qualidade.

Em que ficamos?

Se na flexibilidade e capacidade de crescer o Eversolo DMP-A6 Master Edition bateu a concorrência aqui presente, sonicamente o Volumio Primo destacou-se na minha opinião pessoal em comparação com o streamer chinês. Em relação ao Denon DNP-2000NE, a escolha seria mais difícil, e aconselho uma audição comparativa prévia. O Denon é muito versátil, agradando a gregos e troianos, enquanto o Volumio Primo tem uma personalidade mais vincada, que pode agradar mais em certos tipos de música e a determinados gostos. Quanto à interface, o HEOS do Denon, apesar das recentes melhorias, ainda não está ao nível dos seus principais concorrentes neste teste. Neste aspeto o Volumio revelou-se algo à parte. Para quem está a fazer a aposta no primeiro streamer, o Volumio Primo pode revelar-se uma escolha compensadora, até porque podemos adicionar mais à frente um DAC externo com a assinatura sonora a gosto. Caso para dizer, será mesmo preciso ir mais além?

Equipamento presente nesta review:

  • Volumio Primo II, disponível aqui
  • Primare NP5 Prisma MkII, disponível aqui
  • Fezz Audio Equinox by LampizatOr, disponível aqui
  • Eversolo DMP-A6 Master Edition, disponível aqui
  • Denon DNP-2000ne, disponível aqui
  • Pier Audio MS-480SE, disponível aqui
  • Bowers & Wilkins 607 S3, disponíveis aqui
  • Triangle Borea 03, disponíveis aqui
  • Cablagem Ansuz, disponível aqui

1 comentário em “Volumio Primo: Será Mesmo Preciso Ir Mais Além?”

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