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“All things to all men”, Pier Audio MS-480 SE

Quando iniciei o projeto “MoustachesToys“, prometi olhar esta aventura pela perspetiva do consumidor. No entanto, por um momento, só por um parágrafo, vou colocar-me no lugar do fabricante. Posso?

Existe amor na criação de uma máquina? Se sim, o primeiro olhar seguiria instintivamente produtos esotéricos com preços altíssimos, certo? Ou será que o designer do amplificador integrado francês Pier Audio MS-480 SE, com amor e num acesso de atribuir “All Things to All Men”, quis levar o som High-End a todos, e com um preço de €1300?

O Engº. em mim em relação ao Pier Audio MS-480 SE:

O Pier Audio MS-480 SE é um amplificador integrado híbrido push-pull classe AB. Utiliza duas válvulas 12AT7 e duas 12AU7 na pré-amplificação, com transístores bipolares Toshiba na potência. Entre os componentes internos, destacam-se capacitadores Rubycon e Nichicon.

Pronto. Está exorcizado!

Pier Audio MS-480 SE
Pier Audio MS-480 SE

Primeiras Impressões do Pier Audio, frente ao Audio Note Cobra

Ao receber o Pier Audio MS-480 SE para análise, ainda estava por cá o Audio Note Cobra, custando quatro vezes mais, seguramente um dos melhores amplificadores que já testei. A comparação é inevitável, embora injusta devido à grande diferença de preços.

Sem surpresas, o Audio Note revelou-se mais refinado, mais revelador de pormenores e nuances, com melhor separação entre canais e instrumentos, e com palco sonoro mais largo e profundo que o Pier Audio. Estamos a falar de certeza de diferenças abismais, certo? Errado! Diferenças óbvias em um frente e frente, sim. Grandes diferenças, não.

Durante a estadia do MS-480 SE, também tive a oportunidade de comparar o Pier Audio com o Marantz Stereo 70s

O receiver japonês, que se identifica como um amplificador stereo integrado, custa €300 menos que o Pier Audio e oferece muito mais funcionalidades, adotando um conceito de tudo-em-um, enquanto o Pier Audio é um amplificador purista.

Como amplificador purista que é, o Pier Audio investe todo o orçamento do caderno de encargos na qualidade sonora. Assim, o amplificador francês proporcionou uma experiência que me aproximou muito mais da música em comparação com o tudo-em-um japonês. Uma boa forma de explicar esta diferença é que o Pier Audio permitiu-me a audição em modo viver a música como uma experiência, enquanto que o Marantz, com os compromissos que o conceito de tudo-em-um trazem, reproduziu a música como se me estivesse a contar a história dessa precisa experiência.

Um destaque deste amplificador que não posso deixar passar é o comando integralmente em alumínio incluído, um recurso raro nesta faixa de preço.

Durante esta análise, utilizei diversas fontes, 

como o gira-discos MoFi StudioDeck em conjunto com o prévio de phono Rothwell Simplex; e streamers como o Eversolo A-6 Master Edition e o Denon DNP-2000NE (podem ler o frente a frente entre estes dois leitores de rede aqui). A combinação com o transporte digital Primare NP5 Prisma MkII e o DAC Fezz Audio Equinox by Lampizator foi especialmente notável (review ao mais barato dos conversores da Lampizator por estas páginas já nos próximos dias). A combinação mais lógica e equilibrada, até por pertencerem à mesma liga de preços, pareceu-me o Volumio Primo (review MoustachesToys também muito em breve)

O amplificador alimentou as monitoras B&W 607 S3, e as Triangle Borea 03,  sempre conectadas com cabos Ansuz Acoustics Speakz X2.

Pier Audio MS-480 SE
Pier Audio MS-480 SE

O que andei a ouvir

O amplificador leva cerca de um minuto para aquecer as válvulas. Concluído este ritual, é tempo de desfrutar. Pareceu-me que quanto mais madura a sessão de audição, mais sumo se extraiu deste amplificador.

“Uninvited”. Alanis Morissette canta “you’re not allowed. You’re uninvited”. Mas o Pier Audio convida-me a entrar no universo Intenso e envolvente desta música.

“Pumpkin” mistura a sensualidade da voz de Alison Goldfrapp com a claustrofobia relaxada de Tricky. Toda a tensão sexual contida nesta música é plenamente transmitida pelas modestas Borea 03, muito graças ao domínio e personalidade do amplificador. 

Virando a agulha, “Stay Away” do álbum que tornou os Nirvana um fenómeno global, é também um fenómeno de intensidade e agressividade, perfeito para testar a resposta dinâmica. Nota 20 para a dinâmica. A interpretação é intensa e agreste (como a lixa grão 60 do Serafim carpinteiro). Em outro registo com características similares, “What’s the Frequency, Kenneth” dos R.E.M., com o baixo de Mike Mills a combinar que nem ginjas com o casamento B&W e Pier Audio, mas a guitarra distorcida de Pete Buck já nem por isso, com o tweeter das 607 S3 a revelar algumas dificuldades.

Este amplificador não se fez rogado com música de dança, puxando e empurrando o meu esqueleto cansado ao ritmo de “U Don’t Know Me” e “The Funk Phenomena” de Armand Van Helden e da A-Trak remix de “Heads Will Roll” dos Yeah Yeah Yeahs. “I’m Gonna Be (500 Miles)” dos Proclaimers teve precisamente o mesmo efeito, apesar de não ser propriamente um hino das pistas de dança. A pronúncia escocesa dos irmãos Reid é deliciosa!

“Uprising” pôs-me a marchar ao ritmo marcante e energético imposto pelos Muse e pelo Pier Audio.

Na música clássica: “Lakmé/Mallika” de Delibes, para acalmar. Dueto floral aqui constituído por Natalie Dessay e Delphine Haidan acompanhadas pela Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse. O MS-480 SE revela um espectro de beleza surpreendente que invoca as massas sonoras mais típicas dos Classe A, mas sempre concentrado em revelar-nos a música com veracidade e precisão. A Abertura Solene de “1812” de Tchaikovsky explode com ataque, escala e dinâmica.

“Os Planetas” de Holst revela toda a escala de que este amplificador é capaz, com um som entusiasmante e uma facilidade desconcertante de passar da delicada filigrana para as passagens de escala mais colossais.

E qual o veredito?

A primeira palavra que me salta à boca para descrever este amplificador é entusiasmante!

Modestos 50W, mas com um grave dinâmico e enérgico. Som com ataque excepcionalmente rápido, mas com um som encantador, como imagino as Tágides, com um espectro de beleza surpreendente.

Dei por mim a ouvir, sempre que me foi permitido, por horas a fio. Terá sido graças ao equilíbrio atingido entre energia e suavidade?

O som é sedoso e suave, mas com resolução suficiente para ouvir diferenças entre as diferentes fontes. Há também consistência e coerência ao longo de todo o espectro entre todas as fontes que utilizei.

Perante o preço pedido por este gaulês, o céu fica realmente muito perto para muitos: “All things to all men”.

Product Page

Página do representante em Portugal

Especificações

• Power: 2 x 50W(8 ohms)
• Distortion: ≤0.10%(1kHz)
• Input sensitivity AUX 1 ~ AUX 4 ≤220 mV
• BYPASS ≤ 600 mV
• Frequency Response: AUX 1 ~ AUX 4: 5Hz – 75 kHz (-2dB)
• BYPASS: 5Hz – 35KHz (-2dB)
• Signal To Noise Ratio: ≥ 88 dB (A)
• 4 vacuum tubes: 12AT7 x 2 & 12AU7 x 2 (SRPP)
• 4 Toshiba bipolar transistors 
• Remote control sources / volume
• Impedance: 4Ω – 8Ω
• Gross weight: 10,5 kg (23 Lbs)
• Dimensions: 275mm (W) x 390mm (D) x 115mm (H) – 10,8” (W) x 15,35” (D) x 4,54” (H)
• Supply capacitors Rubycon/Nichicon/Elna.
• Polypropylene electrical capacitors from Wilma and SCR (France)​

Equipmento usado:

– Pier Audio MS-480 SE, disponível aqui

– Audio Note Cobra, disponível aqui

– Marantz Stereo 70s, disponível aqui

– Bower & Wilkins 607 S3, disponível aqui

– Triangle Borea 03, disponível aqui

– Eversolo DMP-A6 Master Edition, disponível aqui

– Denon DNP-2000ne, disponível aqui

– Primare NP5 Prisma MkII, disponível aqui

– Volumio Primo, disponível aqui

– Fezz Audio Equinox by Lampizator, disponível aqui

– MoFi StudioDeck, disponível disponível aqui

– Rothwell Simplex, disponível aqui

– Ansuz Speakz X2, disponível aqui