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Transformar água em vinho

Transformar água em vinho

Segundo o Mundo Cristão, o primeiro milagre de Jesus Cristo foi transformar água em vinho.

É conhecido por Bodas de Caná.

“No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Quando acabou o vinho, a mãe de Jesus disse aos serviçais: Façam tudo o que ele mandar. Jesus disse aos serviçais: Encham os potes com água. E encheram-nos até à borda. Então lhes disse: Agora, levem um pouco ao encarregado da festa. Eles assim fizeram, e o encarregado da festa provou a água, que fora transformada em vinho. Este sinal milagroso, em Caná da Galileia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele.”

Com o advento das redes sociais, uma das categorias de narrativa que ganha mais adeptos são as teorias da conspiração. Determinados evangelizadores perceberam que é pelo caminho negativista que será mais fácil cozinhar a mioleira das massas.

Exemplo: Quero facilmente cativar seguidores? Crio um canal no YouTube, onde venho “desmascarar” a maioria desses “malvados” fabricantes de material de alta-fidelidade.

Qual é a estratégia mais fácil? Duas vias.

Ansuz Darkz C2t

Primeiro e mais óbvio, atacar a credibilidade dos acessórios. Onde de facto não faltam no mercado vendedores de banha da cobra a pulular, especialmente alguns pequenos garagistas, que de facto não têm a capacidade tecnológica ou sequer o conhecimento para fabricar acessórios com o mínimo de credibilidade. Vivendo dos crédulos. 

Correm algumas histórias por aí, que se não fossem tão trágicas pelos prejuízos que trouxeram aos infelizes que nelas caíram, seriam hilariantes.

E segundo. Qual a mais fácil forma de criar seitas de seguidores, senão a maledicência? Infelizmente faz parte da essência humana. Basta estar atento aos fóruns e grupos do Facebook de assuntos do áudio que mais crescem para perceber como estas coisas funcionam. Nestes ambientes poluídos, como na política por exemplo, quem de facto sabe, cada vez mais prefere manter-se calado, a participar e ser crucificado pelo atrevimento de realmente ter conhecimento de causa.

Ansuz RCA interconnects, speaker cables and Power cable

Então cabos de corrente, cabos de conexão, distribuidores de corrente, sistemas de control de ressonância e harmonizadores de corrente, entre outros acessórios são normalmente vistos por muitos como banha da cobra. Apesar de todos intervirem em aspetos que todos concordamos serem absolutamente fulcrais na reprodução sonora. E no caso dos cabos, as coisas nem sequer funcionarem sem eles.

Há meses atrás em conversa com o Rui Pedroso da Autumn Leaf Audio, a conversa foi cair a este assunto e surgiu a ideia de fazer uma review a cabos, assunto sempre controverso, e que me garantiria o pretexto para mandar umas postas de pescada e incendiar a internet, com alguma facilidade, pois é da combustão da polémica que se alimentam os algoritmos. O Rui concordou com a review. Eu concordei com as postas de pescada!

O Rui, que se deu ao trabalho de me trazer pessoalmente uma tonelada de material a casa (bem, uma tonelada não terá sido o caso, mas parecia uma tonelada, até porque não somos propriamente vizinhos – obrigado Rui pela tua disponibilidade. Um grande abraço!), trouxe diversos cabos de corrente (de 2 gamas diferentes), cabos digitais USB, cabos de interligação RCA e XLR e cabos de coluna. 2 tipos diferentes de distribuidores de corrente, harmonizadores de corrente. E 2 tipos de desacopladores de control de ressonância, ajustáveis em altura e sem ajuste em altura. É destes pézinhos que vou falar aqui, em primeiro lugar. Os outros se seguirão em breve.

Ansuz Darkz C2t

Para começar, e resumindo, faço o Pepsi Challenge com qualquer um, e com qualquer modelo de colunas em como há uma diferença perfeitamente audível com o uso destes pequenos acessórios. Não acreditas? Então não percas mais tempo com este texto, não é para ti!

Resolvido este assunto. E agora que só temos entre nós as mentes abertas ou as que já foram iluminadas, vamos ao que interessa.

 

Ansuz Darkz

A primeira vez que montei os Ansuz Darkz C2T (os não ajustáveis), por baixo dos pés de silicone das minhas monitoras da sala, e precisei de sair para outra divisão por motivo que agora não interessa, ao cruzar-me à pressa com a minha esposa, duas divisões depois, ela me perguntou o que eu tinha feito ao som. Eu sorri, porque eu próprio não estava à espera de um impacto desta natureza. 

Passo a explicar. Tinha na altura para teste o conjunto Rockstars da M2tech em casa, mas tal como o Rui me tinha proposto, experimentei primeiro com o sistema menos revelador. Então liguei a aparelhagem Pioneer de 1991, com um DAC chinês de importação direta, com os cabos de coluna que comprei na Amazon. Quando digo que não estava à espera de tal impacto no som, refiro-me a que realmente tenho a noção de que se trata de um sistema que, embora me satisfaça de determinada forma, tenho a noção das suas limitações. Este tipo de acessórios de facto tem impacto, já tinha assistido, mas não na minha sala, e em sistemas muitos degraus de qualidade acima deste.

Ansuz Darkz C2t

Sim, ainda estava a apanhar os cacos do que restava do meu ceticismo, quando voltei à sala e tocava “Jòga” de Björk. Confirma-se a escala e o impacto. De repente, os músicos pareciam que tinham ido ao ginásio, tal a vontade como tocavam os seus instrumentos. Até a islandesa estava nos seus dias. 

Teria sido milagre? Será que me estaria a forçar a ouvir algo que não estava realmente lá? Mas então o porquê da reação espontânea da minha esposa? Vamos a um double-check. 

Toca a retirar os desacopladores de baixo das colunas. A impressão agora é que os músicos se esconderam por trás de um véu. 

Mais uma tentativa. 

Ansuz Darkz C2t

Volto a colocar os pézinhos da Ansuz, e os músicos regressam de trás da cortina. Volta a escala e o impacto à música. Faz-me pensar porque não incluem os fabricantes de colunas soluções deste tipo na sua construção mais frequentemente. Sei que tenho mais de dois mil euros de control de ressonância debaixo das minhas colunas de 450€. O aumento de custo de incorporar esta tecnologia só poderá ser justificável, face à acérrima concorrência de preços, em colunas a partir de determinado custo, onde o dinheiro tende a perder parte da sua importância. 

Na realidade este efeito não tem nada de milagroso. Num sistema de áudio, todos os componentes vibram e ressoam, especialmente as colunas. Os componentes eletrónicos de nível audiófilo de última geração, como a pré-amplificação e conversão de sinal digital em analógico, cheios de eletrónica hiper-sensível, também sofrem por efeito da vibração mecânica. Já nem vou falar de gira-discos e leitores de CD. Daí a importância de desacoplar os componentes de tudo o que se passa em redor. Quando o control de ressonância é efetivo, os ganhos vêem-se, ou melhor, ouvem-se!

É frequente e fácil para cada um de nós, pessoal que se importa com a forma como consome música, concentrar-se apenas no tipo e na qualidade dos componentes eletrónicos, sejam colunas, amplificação ou fontes musicais. O tratamento acústico da sala parece finalmente ganhar também a preocupação de alguns audiófilos. Mas parece-me que os acessórios continuam a não ter a atenção que merecem, para prejuízo de quem fecha os olhos às evidências, e não tira partido do que eles nos possibilitam.

Ora vejamos.

Cambridge Edge A

Nas demonstrações de equipamentos high-end, temos aquela coluna que nos faz sonhar e planar sobre paisagens sonoras, o imponente amplificador de metal impecavelmente escovado, com aquele botão de volume com resistência à rotação afinada na fábrica de chocolate de Willy Wonka, e o deck em que a agulha se deixa cuidadosamente encostar ao disco em vez de bater com estrondo no vinil. Todo e o mais ínfimo pormenor não é deixado ao acaso, e com certeza que os cabos não vêm da Amazon, nem os equipamentos ficam ligados a uma ficha tripla, certo?

Sim é verdade, que o vendedor de serviço nos quer massajar os olhos e a ânsia consumista com luxo, materiais e acabamentos requintados. Pelo menos ao mesmo nível dos equipamentos que nos quer demonstrar. O nível de um sistema é igual ao do seu elemento inferior. Estão a imaginar umas colunas superlativas de centenas de milhar de euros ligadas a um receiver de 500 euros? Seguramente que não iriam cantar no fulgor de toda a sua potencialidade. Então porque é que normalmente temos um cabo de coluna que parece um cabo de âncora de um navio? Porque com certeza um cabo igual ao do fio do candeeiro ao lado não será capaz de lhes fazer justiça.

Voltemos aos pézinhos.

Ansuz Darkz C2t

As partes móveis dos equipamentos de áudio vibram e influenciam assim tudo ao seu redor e a si mesmas. Mesmo os dispositivos eletrónicos não estão livres deste facto. E sim, as suas vibrações são muito muito pequenas, mas existem. O desempenho aumenta na inversa proporção de quanto minimizamos este efeito. Estes Ansuz Darkz dissipam e transformam esta energia em calor. Começo a pensar que o bom som está onde se cria calor…

Cada pé é constituido de três discos e seis esferas de titânio. O conjunto forma um cilindro. Os discos estão juntos por duas placas concêntricas de alumínio, a de cima com forma côncava para poder alojar spikes de colunas. Existe a possibilidade de serem reguláveis em altura através de uma rosca interna. Existe também a possibilidade de adicionar a colunas com spikes os discos Ansuz Darkz Feet com três esferas adicionais. Disponíveis com parafusos de 4, 6 ou 8mm de diâmetro.

O som.

“The Pros and Cons of Hitch Hiking”, o primeiro disco a solo de Roger Waters, embora o próprio e muitos, como eu, considerem “The Final Cut”, ou até mesmo “The Wall” já trabalhos a solo, é um dos meus favoritos desde que levo a audição de música a sério. É disco em que conheço como a palma das minhas mãos. “4:33 AM (Running Shoes)”. Bem, como na altura ainda não imaginava que iria utilizar uma temática religiosa no texto deste teste estava à vontade de usar esta música. Quem conhece sabe que temos uma conquista provavelmente à custa de um Lamborghini verde. A conquista geme. Desta vez geme como se tivesse chegado para lá da Taprobana. A guitarra de Eric Clapton também geme, para além do Bojador. Tudo mais robusto, mais firme e coeso. Quando chegamos às “4:41 AM (Sexual Revolution), “I awoke in a fever”. Aparte as figuras de estilo, a verdade é que a experiência se tornou mais sensorial que em qualquer das anteriores audições deste disco.

Ansuz Darkz C2t

Waters soa mais calmo e reconfortante quando está calmo, mas também mais agitado e revoltado quando assim o livretto o descreve.

Agora, vez da compilação da responsabilidade da dupla austríaca Kruder & Dorfmeister, “G-Stoned Book” (CD+livro G-Stone12 019), desta vez  já com o integrado Polaco a válvulas Fezz Silver Luna: em “Shades” de Walkner-Moestl e “Dubolition” de Kieser-Velten; as modestas Borea 03 escavam graves profundos, poderosos, compostos e texturados. 

E a compostura? Para testar a compostura gosto de subir o volume até fazer sangrar os ouvidos com a “Cavalgada das Valquírias – Die Walküre” de Richard Wagner, banda sonora de gente nada recomendável. Como precisava de músculo, liguei o amplificador integrado Cambridge Audio Edge A. Imaginem os quatro cavaleiros do apocalipse a entrar na sala montados a cavalo. Mas como cavaleiros teutónicos que são, tudo é composto e organizado. Mais uma vez os pézinhos parecem dar uma ajudinha nas características mais modestas das colunas, ampliando as suas melhores qualidades. Quem duvidar que faça o Pepsi Challenge, da melhor forma possível, em própria casa, com o próprio equipamento. Estas pequenas maravilhas arriscam ser a surpresa do ano. Recomendo vivamente!

Esta review percorreu o primeiro milagre de Cristo. Alguns dos aspetos mais negativos do inferno de Dante que podem ser as redes sociais. A parte mais sexualizada de uma das melhores obras de Waters. E uma das odes a passar a vida ganzado, e o trecho musical que pode ter inspirado a BlitzKrieg. Na parte musical, os desacopladores tiveram a bênção de conseguirem transformar água em vinho. Gosto muito de água e bebo-a todos os dias, mas garanto que, se o vinho além do efeito inebriante parecido ao da música, não acarretasse os potenciais riscos e efeitos secundários, preferia-o todos os dias!

 

Ansuz Darkz C2t

Dispositivos de control de ressonância, cabos de corrente, cabos interligação, cabos USB, harmonizadores e controladores de corrente gentilmente cedidos por Autumn Leaf Audio

equipamentos presentes neste teste:

  • dispositivos de control de ressonância > Ansuz Darkz e Ansuz Darkz Feet
  • cabos de corrente > Ansuz Mainz P2 e Ansuz Mainz X2
  • controladores de corrente > Ansuz Mainz 8 X e Ansuz Mainz 8 X-TC
  • harmonizadores de corrente > Ansuz Sparkz
  • cabos interligação Digital USB > Ansuz Digitalz X2
  • cabos interligação RCA > Ansuz Signalz X2
  • cabos interligação XLR > Ansuz Signalz X2
  • Amplificadores integrados > Cambridge Audio Edge A, Fezz Audio Silver Luna Prestige Evolution e Pioneer DC-Z73
  • Amplificador de Potência + pré-amplificador/DAC/HeadAmp + Fonte de Alimentação > linha Rockstars da M2tech
  • leitor CD > Pioneer PD-Z74T
  • Colunas Monitoras > Triangle Borea 03
  • Auscultadores > Meze Empyrean Elite, Meze 99 Classics e Sennheiser HD206