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Aventuras do Bigodes no High-end, Ultimate Sessions Maio’23

As Ultimate Sessions de maio tiveram no auditório principal da Ultimate Audio Elite do Porto um sistema composto por colunas Marten Mingus Quintet II, amplificação Boulder 1110 Pré e 1160 Power, Taiko Extreme Server e Switch (este uma novidade desta Session), DAC e multiplayer (SACD) T+A MP 3100 HV e deck J. Sikora Standard Max com cartucho ótico e prévio Grand Master da DS Audio. A “Limpeza” da corrente elétrica ficou a cargo do Isotek V5 Aquarius, sistema de terra Entreq Pluton e cablagem da Siltech.

Maio, Ultimate Sessions, As Aventuras do Bigodes no High-end Audio

Avantgarde Uno SD + Antipodes k50 + Accuphase DC1000 + Accuphase C2900

Na sala mais pequena, normalmente dedicada ao Home-cinema, as colunas de corneta Uno SD da Avantgarde (nesta Session apenas em modo ativo), servidor/streamer k50 da Antipodes, DAC e pré-amplificador Accuphase DC1000 e Accuphase C2900.

Avantgarde Uno SD

No sistema instalado no auditório mais pequeno, tivemos colunas ativas de corneta da Avantgarde. Estas colunas podem funcionar em modo ativo ou passivo. Normalmente o que se verifica em sistemas de colunas ativas, por contingências de espaço primordialmente, temos amplificação classe D. Não nestas Avantgarde, não senhor. Aqui temos da boa classe A, sim senhor! 

Avantgarde Uno SD

A sensação mais imediata, e não necessariamente uma surpresa, foi a forma como estas colunas encheram a sala de música. Cada milímetro cubico vibrava e pulsava com o timing e ataque típico das cornetas.

Já não é a primeira vez que o digo e temo começar a tornar-me repetitivo, mas na minha opinião uma das maiores dificuldades que tenho sentido em qualquer sistema, desde os quinhentos aos quinhentos mil euros, é a sua capacidade de tocar fielmente o som do piano acústico. E mesmo em alguns sistemas hiper-supra-mega-superlativos a verdade é que nunca ouvi um piano reproduzido como o ouço ao vivo. Aqui não nos poderemos queixar. O conjunto Antipodes, Accuphase e Avantgarde portou-se muito bem, aproximando-se perigosamente da experiência ao vivo, e o piano acompanhou Carlos do Carmo taco a taco, sem se mostrar intimidado pela presença da voz e carisma deste grande Senhor, infelizmente já desaparecido.

Das cordas para a madeira. Saxofone. O som do saxofone tem o tato da madeira não polida, por vezes nem amaciada. E aqui o tato do som do saxofone arranhou-me a pele como tivesse caído do topo de um ramo de um sobreiro. Lembro-me de, na minha meninice trepar aos pinheiros e ao sobreiro que tinha na bouça junto a casa dos meus pais. Quando escorregava na cortiça arranhava as pernas, mas não o suficiente para aleijar. Tal como o som do saxofone reproduzido por estas Avantgarde, tal a sensação de textura que estas colunas nos proporcionam.

Antipodes k50 + Accuphase DC1000 + Accuphase C2900

Admito que também gostava de atirar sameiras com a minha fisga, e acertar nos miúdos mais velhos, para depois fugir a sete pés, E na altura, um ano ou dois de diferença podia representar tamanha diferença corporal, que podia levar uma diaba daquelas… e me valeu certa vez planar uns metros, depois de levar um chuto por trás enquanto corria a fugir de uma figura quase com o dobro do meu tamanho. O mesmo mamífero depois teve de fugir para baixo de um carro, uns anos depois quando recuperei a diferença de tamanho. Já o trompete de Miles Davis, cortou literalmente o ar denso, de massa sonora, como navalhas. Como quando cortávamos os elásticos para as fisgas.

O som destas cornetas esfrega-se na cara e ouvidos, como fetos quando brincava no mato. Mas ainda assim com alguma profundidade para este tipo de colunas.

A capacidade de transmitir com compostura os trechos complexos e intensos de música clássica, e depois desenhar delicada filigrana sonora imediatamente a seguir e sem qualquer hesitação, não deixou de me impressionar. O kick-drum bateu com o mesmo impacto seco como quando dávamos com a cabeça, os joelhos ou os cotovelos, nos paralelos de granito do chão ao cair, na brincadeira.

Há quarenta anos passava-se assim o tempo. Na rua. No mato. A correr, a trepar, a jogar à bola, com balizas sinalizadas por pedras, a parar quando passavam carros. Infelizmente nenhum dos meus três filhos poderá ter a oportunidade de viver o mesmo.

Ultimate Session

Mas agora estou a ficar careca e entradote. O meu estilo de vida sedentário, e a busca pelos pequenos prazeres da vida, fez evoluir o meu gosto. Aprecio sensações mais macias e subtis. É aqui que entra o sistema presente na Session de maio da Ultimate Audio, no Porto, ali ao pé de Serralves.

Boulder 1110 + Boulder 1160 + Taiko Extreme + T+A MP 3100 HV + J. Sikora Standard Max + DS Audio Grand Master

J. Sikora Standard Max

Regressei então ao auditório principal, e logo Miguel Carvalho presenteou os presentes com uma das grandes bandeiras dessa grande senhora chamada Maria Bethânia, “Lágrima”. E como todos os presentes eram adultos, homens, na casa dos entas, quarentas, cinquentas e sessentas, todos aguentaram a sua dentro do canto do olho, e engoliram em seco e em silêncio, embargados, à espera que passasse despercebido, e nenhum dos outros presentes reparasse na carga emotiva que estas colunas suecas tinham acabado de nos incutir. Fantástico. Já tive o prazer de ouvir na mesma sala outras colunas a custar mais do triplo, mas que não foram capazes de me apertar o coração da mesma forma que estas Mingus Quintet II da Marten, mas que ainda assim não são para a carteira de todos. Quem tem dinheiro consola-se…

Marten Mingus Quintet II

Para os apreciadores do jargão audiófilo, tivemos tridimensionalidade em profundidade, altura e largura. O piano de “lágrima” só pode ser de cauda, tal a dimensão do som. O assobio e guitarra acústica de Livingston Taylor fez ricochete pela sala em “Isn’t she Lovely”. E que peito tinha Johnny Cash em “The sound of Silence”, do tamanho da sala! Boa separação de cada instrumento, cada um com sua textura individual, na jam party que é “St. James Infirmary Blues”, Unplugged ao vivo. De repente estávamos lá com os The Stimulators na Kunstsalon.

Ultimate Session

Volto a pôr o dedo indicador na botoneira. Nesta nossa tribo dos audiófilos, por vezes tendemos a perder o contacto com a música, na incessante procura por “aquele equipamento!”, aquele que nos fará parar de procurar. E por vezes, felizmente, vamos tropeçando naqueles que nos trazem os pés de volta a terra, fazendo-nos voar. Literalmente, existem sistemas que nos agarram pelo peito e nos levam por aí, numa viagem emocional. Este conjunto permitiu aos presentes um desses raros momentos. Para alguns felizardos, este poderá ser o tal.