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Aventuras do Bigodes no reino do High-end, Ultimate Sessions Porto Novembro 2022

Aventuras do Bigodes no reino do High-end, Ultimate Sessions Porto Novembro 2022

Há momentos em que alguns de nós planeamos trabalhar mais e melhor, esticar mais umas horas o dia… para ver se conseguimos lá chegar.

Por um lado sinto-me abençoado por poder ter a oportunidade de poder vivenciar equipamentos a que só alguns podem chegar, por outro, sobra a frustração de não os poder possuir. De poder, sempre que desse vontade, parar, rebobinar, carregar play, e desfrutar de uma das minhas gravações favoritas. – “ESTUDASSES!” – podia alguém ao longe berrar…

Também é verdade que nestes tempos, por hábito ou falta de disponibilidade, consumimos textos de 2 linhas ou no máximo os primeiros 2 minutos daquela música. Por isso, se calhar poucas seriam as oportunidades, de parar, de rebobinar, de carregar play, de me reclinar para trás no cadeirão, de pousar os pés, de desfrutar e levantar voo… mas que bom que seria poder.

O Bigodes esteve de novo frente-a-frente com um sistema superlativo, encabeçado por um leitor de bobines. Mas já lá vamos.

A Ultimate Audio Elite, voltou a servir no passado sábado 3 de dezembro um menu high-end aos audiófilos do Norte. 

Na sala “liga dos campeões”, a voz foi assegurada pelas Rockport Lyra, monoblocos e pré SoulNote M3 e P3, fontes digitais Wadax Atlantis Reference DAC e Server. Quanto às fontes analógicas presentes já lá vamos (é dos livros deixar o melhor para o fim).

Na sala da “Liga Europa”, torres e subwoofers Perlisten e eletrónica Acuphase.

Alguém se lembra de 2001 Odisseia no Espaço? Dos Monólitos negros? Agora imaginem que alguém lhes arredondou os cantos e lhes enfiou uns altifalantes. Como é que fabricam as Rockport Lyra lá nos States? É dar uma espetadela https://bityli.com/soSKjo 

Esta gente não brinca em serviço, já em 1992 andavam a fabricar gira-discos com… 115kg de granito só no plinto!

A amplificação com monoblocos e pré topo de gama na SoulNote, vindos da terra do Sol nascente.

O Server e o DAC (com alimentação independente por canal), da Wadax impressionaram-me pelo design. Em vez das normais caixas retangulares a que estamos habituados, Nuestros Hermanos presentearam-nos com 2 elementos que poderiam muito bem ter sido desenhados por Gaudi, mas não, foram por Alberto Ochoa. Em matérias de gosto, a opinião pertence a cada um, e neste caso, guardo a minha para mim, pois pendo mais para soluções mais tradicionais. O audio high-end já é muito mais que puro som, e neste caso o statement está marcado. No aspeto prático teria apreciado visores que fossem visíveis a pouco mais de um palmo também. Desculpa lá Alberto, mas com 47, as vistinhas já não são o que eram.

Qual a minha impressão do som? 

Resumindo em poucas palavras: precisão, dinâmica, ataque. 

Eis um sistema que respira ser tecnicamente perfeito por todos os poros. Todo o que ouvi se aproxima da ideia que temos do que o artista quereria que ouvíssemos. 

O piano é para mim um dos instrumentos mais difíceis de replicar por sistemas de som, e aqui não senti essa dificuldade, pelo contrário. O sopro do saxofone?, literalmente senti a sua textura na pele, e por pouco me levava o bigode! O facto das Lyra serem literalmente blocos de metal praticamente maciço com 250kg cada, ajuda a que os graves sejam massivos, com impacto sentido fisicamente, e com precisão de fazer subwoofer babar.

A voz de Hannah Reid dos London Grammar apareceu qual Ahab a capitanear o Pequod no nevoeiro contra Moby Dick, mais realista e pujante que alguma vez a tinha ouvido. Outra palavra que me recordou este sistema foi blitzkrieg. Ataque e compostura.

Música também é precisão. Música é primordialmente emoção! 

Muitos procuram o realismo e precisão técnica nos equipamentos de reprodução de música. Outros tentam viver a experiência que o artista tentou interpretar com a música. E é aqui que encaixa na perfeição, na minha opinião, o analógico.

Arooj Aftab, é uma mulher oriunda do Paquistão. O Paquistão que existe como país por ser islâmico. Nascer mulher no Paquistão implica uma carga a todos os níveis que eu, por ter nascido Homem, no Ocidente, poderei alguma vez sentir remotamente. Essa carga emotiva e típica forma de cantar daquelas latitudes é algo que passa até nos auscultadores bluetooth de 100 euros que me seguem para todo o lado (mas que cá entre nós disparam muito para lá de muitos, do triplo do preço). O caráter preciso deste sistema, no digital, não multiplicou essa carga emotiva na mesma proporção que os 100 euros dos headphones, claro.

Entra o analógico.

É aí que a bobine de Muddy Waters, gravada diretamente do original, e com ruído de fundo, entra em cena. Foi tomando conta de mim de fininho, mas crescentemente, entranhando-se nas minhas guts (a tradução para português não chega lá). Ainda há dias alguém disse que iríamos ouvir -A Verdade- quando ligou outro leitor de bobines. A verdade é um formigueiro debaixo da pele. É uma súbita vontade nas articulações. É algo de diferente com cada um de nós. Algo diferente a cada música.

Vitória por 6-1 para o veterano leitor de bobines Technics, sabe-se lá se também com 37 ou 39 anos como Ronaldo e Pepe, revisto e alterado por portugueses, e eletrónica também portuguesa RMD, ali ao lado de Serralves, no palco principal da Ultimate.

A conclusão é que terei de trabalhar muito mais e muito melhor. Como fez Ronaldo. Porquê? Porque hei-de conduzir Alfa Romeo se existem Ferraris por aí?