Click here to read this in English
Cheguei às mais recentes Ultimate Sessions no Porto, com alguma expetativa. As “estrelas” desta sessão foram as Colibri, as colunas com que a Avantgarde parece pretender chegar a um mercado mais acessível ( O par de colunas e subs com suportes rondam os 18 mil euros) – um terreno já vislumbrado na celebração dos 14 anos da Ultimate Audio, em novembro, quando as ouvi casadas com os Subs da Perlisten.

O Setup

Desta feita, encontramos as Avantgarde Colibri C2 ligadas aos Subs C18, que foram desenvolvidos a pensar na parelha com as C2. Estes C18 (o “18” vem do diâmetro dos altifalantes – 18 polegadas, como as jantes dos carros desportivos, antes de os SUVs começarem a preencher as nossas estradas) estavam ligados diretamente ao amplificador Western Electric 91E via Line-out. Estes subwoofers permitem afinação via DSP e ajuste de crossover através do software da marca alemã. Fonte digital? O leitor de rede Aurender A15. O gira-discos? Torqueo T34 Exclusive, munido da célula ótica DS Audio W3. Na assistência ao sistema, fonte de alimentação linear Keces P8, o Isotek Aquarius V5 a “limpar” a corrente elétrica e, os fios condutores desta experiência sonora ficaram a cargo da Crystal Cables.
As Colibri, com tweeter de corneta e uma sensibilidade de “apenas” 98 dB, proporcionaram a velocidade, a dinâmica e a transparência para a música que a Avantgarde nos vem habituando. O 91E, apesar de se tratar de um Single-ended com válvulas 300B, debita 20W por canal – números que prometem, mas quem me vai acompanhando já sabe da minha sensibilidade aos números quando se trata de reprodução musical… Zero!

Logo à entrada, percebi que o sistema tinha a velocidade e ataque típico das cornetas, mas sem a agressão. O som revelou um equilíbrio notável por toda a gama, surpreendentemente determinado para este tipo de amplificação, apresentou transientes rápidos e o foco do palco sonoro que, curiosamente, não se afunilava de forma tão marcada no sweet spot, como costuma ser tradição nesta tipologia de colunas – sem limitar a experiência ideal ao ponto ideal de audição. Como se toda aquela “horn goodness” tivesse sido trazida para uma faixa maior, não só na sala de audição, mas também de carteiras, e de gostos. Evidente ficou também a clareza e os médios “carnudos”, resultando numa sonoridade menos saturante.
O Que Ouvimos Nesta Session

Com Francisco Monteiro aos comandos, o setlist foi um verdadeiro passeio pelo inesperado e pelo memorável. “Long After You Are Gone”, por Chris Jones, seguido por “I Know What I’ve Got”, por Johnny Adams – com o sax de textura de madeira macia de Ed Petersen, a construir uma ponte entre a tradição e a modernidade sonora. “Wicked Game”, de Lusaint, e “You and Me”, de Wynton Marsalis, a demonstrar com maestria a qualidade do ataque e da dinâmica deste sistema, enquanto “St. James Infirmary Blues (Live)”, com a guitarra dos The Stimulators com transientes tão deliciosos que as cordas pareciam estalar, arrancou aplausos tanto do público presente na gravação, como merecia os meus.
O ponto alto? Foram vários. Se tiver de destacar um, apontaria a recriação de “Porto Sentido”, por Carlos do Carmo & Bernardo Sassetti. No piano, sempre uma reprodução desafiadora, os subs corresponderam, dando à reprodução um caráter eu diria carnudo. Com o peso e a emoção da voz de Carmo a atravessar a sala – a vir lá de trás até cá à frente com a determinação característica do intérprete e do poema de Carlos Tê.

A jornada continuou com a delicadeza de “Hibusi”, da Masako Ohta, e com a conexão visceral do “Canto de Oxum”, – aqui, Maria Bethânia estabeleceu uma ligação direta ao coração, e os graves ganharam uma fisicalidade que conferiu credibilidade e realidade à reprodução. E, num dia chuvoso, “C’est Magnifique”, com Melody Gardot e António Zambujo, veio untar de mel a sessão, com uma percussão, mais uma vez, realista, e a orquestra a colar todas as pontas musicais.
Cada faixa foi um convite para explorar a riqueza sonora que o evento proporcionou. Desde “My Funny Valentine (com Sting)”, por Chris Botti – onde o trompete corta e rasga, mas de forma gentil – até “A Trace of Grace” e a imponente “Nessun dorma!”, passando pelo delicioso violino de Salvatore Accardo em “La campanella”, que saltava alegremente entre notas e dialogava em perfeita sinergia com a London Philharmonic Orchestra. Vale ainda mencionar “La Cienega Just Smiled”, de Ryan Adams, onde a clareza da voz e da guitarra se funde com uma profundidade de graves que enriquece a interpretação; “Bright Horses”, de Nick Cave & Warren Ellis, com Francisco a acertar no Euromilhões – nos meus gostos musicais; e “INFERNO”, de HEDEGAARD, que apresentou um ataque com velocidade, transientes, potência e uma escala que fazem questionar: 20W de potência… mesmo?!
E O Vinil?

Do lado analógico, a combinação do escultórico Torqueo com a célula DS Audio W3 a dar aquele toque mais orgânico a esta apresentação – à atenção de quem tem uma coleção de vinil! com, entre outros, “Bye Bye Blackbird”, de Tsuyoshi Yamamoto Trio, e “Un Vecchio Errore”, de Musica Nuda, culminando com o clássico jazz de “Freddie Freeloader”, de Miles Davis.
Conclusão
Mais uma Ultimate Session, mais uma jornada sonora. O protagonismo? Foi dado à música, como deve ser! Os equipamentos estiveram no lugar que sempre deviam ocupar – não no meio, entre nós e a música, mas a fazer a ponte. Por lá, senti a “horn goodness” sem a por vezes habitual “harshness” desta tipologia.


Link para o site da Ultimate Audio
Pingback: Horn Goodness, Ultimate Sessions March, Porto - MoustachesToys