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M2Tech série Rockstars, Meravigliosa creatura

Os componentes aqui em teste:

  • DAC/pré-amplificador/HeadAmp > Young MkIV e 

  • fonte de alimentação > Van der Graaf MkII, mais 

  • amplificador de potência > Crosby.

Gosto de me pensar um sujeito com poucos preconceitos, mas ninguém está livre deles. Nos carros por exemplo, gosto de motores com cilindrada. Não me venham com três cilindros e um litro. Já tive um FIAT Punto, motor mil e cem, e muito me diverti com ele, mas agora estou com quase cinco décadas de vida e já me chega de brincadeiras, e por isso, ambos os meus carros têm motores de dois litros, cada cilindro com meio litro, como as latas de cerveja de trigo bávaras. O Alfa Romeo nem precisa de auto-rádio, ao motor Bialbero segue-se uma linha de escape inteira em inox, sem silenciador e com duas panelas de escape em vez de três. E nem me falem de filtro de partículas, que quando este carro foi lançado, Espaço 1999 era no futuro… Para quem entende do que estou a falar, sabe que tenho um Pavarotti no escape até às 3500 rotações, e a Maria Callas ao berros daí para a frente.

No áudio, sou daqueles entusiastas que considera que um bom som respeita determinadas características. Entre elas: tridimensionalidade, emotividade, riqueza tímbrica, emotividade, amplitude dinâmica, emotividade, textura, emotividade, brilho, emotividade, finesse, emotividade, pureza e fidelidade à gravação. Com a dose certa de coloração, e emotividade.

O som perfeito é estéril e insensível, como a sala de cirurgia após a anestesia. A perfeição cansa. Além disso a inexistência de coloração é algo que não existe na realidade. E a coloração, é como o tempero, deverá ser ao gosto de cada um.

Isto para chegar à conclusão que o meu preconceito, até agora era que, para se conseguir determinado som, os elementos precisam também de ter determinado tamanho e peso, normalmente capazes de nos quebrar as costas (como a escadaria que liga o Arco da Almedina à Sé Velha em Coimbra). Pensem em grandes e pesados monoblocos classe A.

Os três elementos acabadinhos de chegar da Ajasom, o representante em Portugal da M2Tech, juntos, não chegam a metade do peso de muitos integrados de classe AB. Nem à sua pegada volumétrica.

Ao longo deste texto iremos descobrir se o Velho do Restelo em mim irá quebrar as costas ou não com o peso do som reproduzido por estes pequenos componentes vindos de Pisa, Itália.

Desempacotei cada um dos componentes.

A primeira impressão que se tira deste conjunto, é a modéstia e simplicidade do bom gosto das linhas utilizadas no seu design. O logotipo da marca está apenas presente na retaguarda, junto com as indicações das funções de cada uma das tomadas presentes.

M2TECH Crosby

Atrás, o espaço não abunda, naturalmente para elementos desta dimensão. Exemplo. No Crosby, tentei ligar um cabo de corrente, daqueles pensados para componentes com outro tipo de pegada volumétrica. Não foi possível sem ficar encostado a uma das tomadas de cabo de coluna.

Telefonema para a Ajasom, e ligados os cabos de corrente Furutech Slimline, ficou o problema resolvido. 

É também imediata a sensação de qualidade de construção e dos materiais utilizados.

M2TECH Young MkIV

O painel frontal do DAC/Prévio e Head-amp Young MkIV apenas tem entrada jack 6,3mm para auscultadores à esquerda, visor central com informação a branco no mesmo fundo preto que ocupa todos os painéis frontais de todos os 3 elementos, e à direita o botão rotativo e de pressão de volume e seleção, e pequeno seletor de mute, ambos prateados, a combinar com o revestimento em alumínio comum a todos os três componentes. O amplificador de potência Crosby, tem painel frontal totalmente negro, exceto pelo Led central branco intenso, que avisa se este se encontra ligado.

M2TECH Crosby

No Young, atrás, pode ligar uma fonte analógica (ou leitor CD) por par RCA, tem uma entrada XLR (AES/EBU), coaxial SPDIF, ótica Toslink, ficha mini HDMI para I2S, USB assíncrono, entrada de jack para trigger de interligação e entrada para fonte de alimentação 15V, que pode ser o power brick de parede fornecido, ou o terceiro componente deste teste, o Van der Graaf. Em relação a flexibilidade e escalabilidade estamos falados.

M2TECH Young MkIV

É possível instalar a App iYoungMkIV e controlá-lo a partir do smartphone. A minha opinião é que tudo se torna mais fácil no manuseio mais trivial como aumentar ou diminuir volume, escolher a fonte, etc.

Na aplicação controlam-se também as funções Balance e Fader. A voltagem das saídas balanceada ou não balanceada, o ganho da saída de auscultadores, o control do volume, em passos ou decibéis, o Fader dos auscultadores, a escolha entre dois filtros disponíveis para DSD, ligar o Bluetooth (não testado, tenho tudo ligado por Airplay), temporizador, led de standby, ou restaurar definições de fábrica. O comando ficou praticamente por utilizar. Apenas utilizei à mesa de jantar, onde há proibição de utilizar o telemóvel.

Comecei por ligar o Young sozinho à etapa de potência Crosby, e este ao par de colunas de serviço na minha sala, umas modestas, pelo menos comparativamente pelo preço, monitoras Triangle Borea 03. 

Estas colunas disparam bem acima do valor pedido pelo fabricante. E ligadas ao sistema M2tech, choram, berram e suspiram com uma emotividade espetacular, e não se deixaram ficar perante a qualidade dos componentes presentes. Mal lhes liguei o Crosby, ganharam foco, largura, altura, profundidade e dinâmica para além do que tinham mostrado até aí com o integrado de serviço. Este elemento sozinho, pesa e ocupa mais que todos os três componentes M2Tech juntos… Ganharam também requinte e textura. Grande surpresa o salto dado pelas colunas quando ligadas ao Crosby.

Mais à frente juntei-lhes uns “pézinhos” de desacoplamento ajustáveis de triplo andar da Ansuz, que as fizeram cantar muito acima do que os €uros que paguei pelo par poderiam fazer esperar. Passando a soar de maneira radicalmente diferente. Podem espreitar aqui a análise a estes acessórios. 

Com o Crosby, ganharam meat on the bone, como gostam de lhe chamar alguns dos nossos colegas anglófonos. Mas não só. Ganharam doçura nos médios altos, os tais que os meus ouvidos tão pouco toleram. Isto logo nos primeiros minutos. A este propósito posso dizer que o sistema M2tech já vinha rodado, e já chegou da Ajasom a cantar perto de todo o seu potencial.

A ideia inicial foi testar um sistema vocacionado para utilização de auscultadores. Feita a proposta de me cederem um pré e head-amp, com fonte de alimentação para teste, prontamente acederam, e complementaram o conjunto com a etapa de potência Crosby. Quando o sistema chegou e o liguei, imediatamente percebi o porquê de adicionarem o amplificador de potência.

Vamos lá a ver se temos Head-amp. Comecei por ligar-lhe os 99 Classics. Prova superada com distinção. Estes auscultadores, tal como as Borea 03, são ótimas soluções, para quem quer ter quase tudo e pagar quase nada.

Meze Elite

O sistema cantou que encantou, tanto com os Meze 99 Classics cá de casa como com os Meze Elite (análise completa aqui). E estamos a falar de auscultadores de 300 o primeiro, e de 4 mil euros o último. E nenhum desiludiu, bem pelo contrário. Mas foram as colunas que me surpreenderam, pois não esperava a diferença, o salto de performance que sofreram após as ligar a este sistema italiano. Uma verdadeira entente franco-italiana. 

Começo pelos baixos

(nos Meze 99 não podia começar por outro lado). O Young puxou as rédeas aos Classics! Em “The Carny” de “Your Funeral… my Trial”, e “Deanna (Live)” de “Live Seeds” de Nick Cave & the Bad Seeds, o Young tornou músicas por vezes bicudas, em uma amostra daquilo que o poeta australiano melhor nos trouxe na década de 1980. Embalado pela negritude dos personagens de Cave, escavei até às trevas da versão ao vivo de “Gloomy Sunday”, presente em “Malediction and Prayer” de Diamanda Galás. Mais negro não se pode pedir. Trata-se de uma prova de fogo. Música sacada aos infernos! Mais uma vez, prova superada, os modestos 99 Classics reproduziram com fidelidade a reverberância da sala (caverna?) de concertos. A seguir a esta experiência, “Hurt” versão dos industriais Nine Inch Nails, cantada por Johnny Cash, ficou com as arestas menos aguçadas, não perdendo a intensidade, mas ficando mais doce aos ouvidos.

M2TECH Van der Graaf MkII

Hora de ligar a fonte de alimentação Van der Graaf, após o esclarecimento técnico do Nuno Cristina da Ajasom (Quem não sabe é como quem não vê).

Fez-se luz!, ou mais concretamente, fez-se silêncio, entre cada instrumento. Tudo ficou mais separado e aberto, nítido e tridimensional, graças ao silêncio, mais escuro. Mais negritude. Mais ainda.

Mas não se confundam as coisas. Este não se trata de um conjunto que pretenda fazer ressonâncias magnéticas ao som. Tudo permaneceu ligado e lógico, e logo, emotivo. Voltamos sempre ao mesmo. O que procuramos ao ouvir música senão a procura de uma experiência emotiva?

Para verdadeiramente medir as capacidades deste conjunto, um dos equipamentos a selecionar para verdadeiramente mostrar as suas qualidades, mas também as suas fraquezas, deveria ser um dos pares de auscultadores que maior unanimidade tem reunido na comunidade audiófila, os Meze Elite. 

Meze Elite

E chegaram! Agora sim, um duelo justo, com armas semelhantes.

Os Elite chegaram com dois conjuntos de almofadas de ouvidos, um de pele e outro de Alcântara. O som que cada uma das situações nos oferece é distinto. Como irei publicar em teste individualizado aos Meze Elite, fica a descrição das diferenças para essa ocasião. Para o teste ao conjunto Rockstars da M2tech irei usar as almofadas que para o meu gosto pessoal, para este sistema, melhor se adaptam ao meu gosto na maioria das situações, as de pele.

Como soa o Young, alimentado pelo Van der Graaf, com uns Meze Elite? Bem, decidi começar por Itália como não podia deixar de ser e pela música que dá título a este teste, “Meravigliosa Creatura” de Gianna Nannini (sim o nome é o mesmo do piloto, que é seu irmão) no álbum “Perle”. A voz delicada mas adulta, quase gemida, o piano e o conjunto de cordas ligam lindamente. 

– Espera lá Bigodes! Então esgotas o punchline que liga ao título, logo no início do teste?

– Calma… lê até ao fim. Tens estado a acompanhar o texto com as músicas? Não. Então tenta dessa forma: “Vesti la Giubba” ato 1 “I Pagliacci”, de Ruggero Leoncavallo.

– Com Pavarotti?

– Não, seria demasiado óbvio

– Enrico Caruso?

– Gravações muito antigas. Pouca qualidade.

– Então quem?

– Plácido Domingo! Vamos lá.

“Tu és palhaço, veste a fantasia, pinta a cara, as pessoas pagam, querem rir. Se Arlequim te rouba a Colombina, ri Palhaço, e as pessoas rirão. Transformas em pantomimas o riso e o pranto, em uma metamorfose o soluço e a dor. Ri Palhaço, sobre o amor destroçado, ri da dor que te envenena o coração” – e choro com ele. Destroçado como ele.

As quatro estações de Vivaldi. Interpretado por Rachel Podger & Brecon Baroque. Com o volume nas alturas, a música clássica precisa fazer sangrar os tímpanos! O Young imprime uma delicada frescura barroca (isto existe?), e por outro lado com grande sentido rítmico e energia. A forma como o Young, em conjunto com o Van der Graaf analisam e explanam os complexos trechos, sem hesitações quando a música puxa pela dinâmica da eletrónica. Dei por mim a ouvir a peça seguida e inteira pela primeira vez, as quatro! Há maior elogio nesta era do streaming e de rápido consumo e fácil cansaço?

“Lákmé” o dueto floral de Délibes, por Anna Netrebko e Elina Garanca, e a Orchestra Sinfónica de Friburgo. O som envolve-me como robe de seda de toque delicado. Toques sensuais portanto.

“Pora Sotunda” e “Ganka” interpretado por Lisa Gerrard e The Mystery of the Bulgarian Voices. A secção rítmica é impactante, mas sem “magoar”, a paisagem sonora etérea pintada a aguarela pelas vozes búlgaras e por Lisa Gerrard, fez-me voar, com a ajuda da autoridade do Young.

“Sogna Fiore Mio” de Lucilla Galeazzi, na versão presente em “Lunário”. A voz de Lucilla acompanhada pela guitarra acústica transporta-nos para as paisagens do Sul de Itália, de nonas a enrolar gnocchis, para os cozinhar para o almoço com tomates acabados de apanhar pelo fresco da manhã. Esta voz imediatamente a identifico com a de Isabel Silvestre (que todos conhecemos do dueto com Rui Reininho na “Pronúncia do Norte”, que os tolos chamam de torpe) em “O Menino de Jesus” do Grupo de cantares de Manhouce”. 

As duas vozes soam-nos às nossas mulheres. Às mulheres que podiam ser portuguesas, italianas, latinas, mediterrânicas. Soam-nos a amor, generosidade, carinho, cuidado, das nossas mães, nossas avós, nossas companheiras, nossas filhas, ou irmãs. Às mulheres que nos cuidam, essas maravilhosas criaturas.

O conjunto Rockstars conseguiu de uma assentada deitar por terra o meu preconceito contra a classe D e os mini sistemas, e ao mesmo tempo, pôs este homem de bigode e noventa e tal quilos, de lágrima no olho, a louvar a Mulher, essa Meravigliosa Creatura!

M2Tech Rockstar Series

Especificações:

M2tech Van der Graaf MkII

  • Voltagem: 2 x 9VDC ou 15VDC (5.5/2.1mm Jack); 2 x 5VDC +15VDC -15VDC (4-pin XLR)
  • Corrente: 50W
  • Dimensões: 200 x 200 x 50mm (LxPxA)
  • Peso: 3Kg

M2tech Crosby

  • THD: 0.005% (60W a 8 Ohms)
  • Potência: 2x 60W a 8 Ohms; 2x 110W a 4 Ohms; 180W (Bridged a 8 Ohms)
  • Dimensões: 200 x 200 x 50mm (LxPxA)
  • Peso: 3Kg

M2tech Young MkIV

  • Conversor: PCM 44.1kHz a 768kHz; DoP 64X a 256X; Native DSD 64x a 512x
  • Entradas: RCA; S/PDIF; AES/EBU; Toslink; USB 2.0; Bluetooth; I2S (HDMI; PS Audio Standard)
  • Saídas: XLR; RCA; Trigger (3.5mm)
  • Dimensões: 200 x 200 x 50mm (LxPxA)
  • Peso: 2.0Kg
M2Tech Rockstars disponível em Portugal através da Ajasom

Equipamentos presentes no teste:

  • DAC/pré-amplificador/HeadAmp > Young MkIV
  • fonte de alimentação > Van der Graaf MkII
  • amplificador de potência > Crosby
  • Cabo interconnect RCA > Kimber Kable Hero
  • Cabos colunas > Kimber Kable linha TC
  • Cabos corrente (Crosby + Van der Graaf) > Furutech Slimline
  • Auscultadores > Meze Elite
  • Auscultadores > Meze 99 Classics
  • Colunas Monitoras > Triangle Borea 03
  • Fonte digital > Apple TV 4K + TV Hisense
  • Fonte digital > MacBook Air 
  • Cabo USB > Ansuz Digitalz
  • Desacopladores > Ansuz Ct2
  • Distribuidor de corrente > Ansuz 8X TC
  • Cabo de corrente (Distribuidor de corrente) > Ansuz P2