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Meze Elite, MoustachesReviews

O take do Bigodes nos Meze Elite

Devia ter-me deixado ficar pelo bilhar, ou desfrutado esta jóia rara? 

Meze Elite box

Na faixa “Thursday”, do disco com que descobri os Morphine, “Cure for Pain”, Mark Sandman conta uma história em que o suposto herói da narrativa se costumava juntar para jogar bilhar todas as quintas-feiras com uma fulana.

Que seguiam para o motel a seguir. 

Que depois de um dia ela o convidar para ir com ela para casa, ele estava tão nervoso, que nem conseguia relaxar, porque não tinha a certeza de quando o marido pudesse voltar.

Meze Elite

Que um dos vizinhos tinha visto o carro estacionado à porta dela e lhe tinha dito que achava que o conhecia. 

Que o marido era um homem muito violento e ciumento. 

Que agora tinha de desaparecer enquanto podia. 

No final de contas deveria ter-se deixado ficar apenas pelo bilhar, ou desfrutado da jóia rara?

Meze Elite

Os meus auscultadores de eleição, os preferidos dos que tenho, que paguei com o meu dinheiro, que adoro, que me fazem bater o pé e esbracejar quando penso que estou sozinho, são os Meze 99 Classics. Se bem me lembro terei pago trezentos e tal euros por eles. Sim, eu sei(!), se um ET aterrasse agora e os experimentasse, e perguntasse quanto valem, acho que nunca acertaria no preço. A relação preço/retorno é do melhor que conheço (ainda não ouvi os 109 Pro).

Meze Elite

O som destes auscultadores fazem-me lembrar o som de “Cure for Pain” da banda de Massachussets. Esta banda era constituida por Mark Sandman, voz e baixo com apenas 2 cordas, Dana Colley nos saxofones e Jerome Deupree numa bateria também minimalista, aliás como o som da banda. Sandman deixou a terra dos vivos em 1999 durante uma digressão em Itália. Desde então os Morphine deixaram de ser Morphine, como os Queen deixaram de ser Queen, depois da morte de Freddy Mercury.

Meze Elite

“Cure for Pain” foi o primeiro disco que ouvi da banda. O power trio debitava um som visceral, honesto. A voz monocromática, quase declamada de Mark Sandman, com o seu baixo simples, à desgarrada com a bateria de Deupree, complementados com os saxofones de Colley, nem sempre só responsáveis pela melodia. O som desta banda deixa qualquer um a bater o pé, como os 99 Classics. A minha fé de que fiz uma boa compra é inabalável.

A propósito de testar o sistema rockstar da M2tech, pedi uns auscultadores à JLM que lhe fizesse justiça. Enviaram uns Meze Elite. Sim eu sei. O vosso escriba favorito (…não o mais humilde) primeiro ficou contente com a oportunidade. Afinal nenhum outro equipamento foi tantas vezes apelidado como “talvez o melhor do Mundo” por tantos reviewers.

Meze Elite

Mas rapidamente fui assolado por mixed-feelings. O melhor auscultador do mundo, muito depois de ter sido testado por praticamente todos os “entendidos” da praça, ser testado também por mim? O mais desconhecido dos reviewers desta aldeia global? O que poderia acrescentar que nenhum tivesse já dito? O primeiro a fazer é abordar a responsabilidade de forma não contaminada por ideias feitas, e resistir a qualquer tentação de ir olhar para as opiniões de outros. Dito e feito. A primeira ideia, e talvez a mais lógica, a referência óbvia ao design, com paralelismos com estilos arquitectónicos. Mas se estivessem à espera do lógico, do óbvio, não estavam a ler o meu teste, pois não?, estavam a ler o teste de outro qualquer.

Meze Elite

A primeira impressão:

Os auscultadores chegaram numa caixa de cartão branca, com o mesmo padrão que têm maquinado no chassis, impresso a cinza na caixa e com “Meze audio Empyrean Elite, driver developed exclusively for Meze audio by Rinaro Isodynamics” no centro.

Caixa aberta e revela-se a famosa mala de alumínio, que faz lembrar a que emanava um brilho dourado de “Pulp Fiction”, lembram-se?

Meze Elite

Abri os dois fechos em paralelo e em simultâneo, tal e qual na supracitada cena do filme de Tarantino, e desta feita, em vez de um brilho dourado que fez palpitar um dos olhos de Vincent Vega (John Travolta), dentro da mala almofadada a esponja tipo mala de pistola, temos uma peça de joalharia que toca musica que alguns chamam de auscultadores Meze Elite, já com um dos conjuntos de almofadas montado (vêm dois fornecidos, um par de pele genuína, outro de alcântara), um cabo de alta qualidade, com uma ponta com jack 6,3mm e no outro lado 2 fichas mini XLR, um mini manual e um cartão de visita com o número de série e data da inspeção de qualidade. Pinta não falta, como não poderia deixar de ser por um produto deste preço. 

Meze Elite

Os auscultadores em si (a parafernália é tal que tenho de lhe reservar uma parte do teste) são realmente uma peça de joalharia. Passo a explicar. A estrutura exterior é em metal prateado polido, com interior preto maquinado, com o padrão de inspiração otomana/balcânica (nestas coisas haverá sempre um entendido que irá levantar o braço apressadamente e sobrepor-se a mim e dizer: “classe D, não digital! Não é a mesma coisa”. Fica desde já o convite à internet para a correção), aro em fibra de carbono e pele com “Elite” gravado a baixo relevo. Como já tinha referido os Elite vêm com 2 pares diferentes de almofadas para os ouvidos. Um par de pele, que pelo toque tem todo o ar de ser verdadeira. Os vegans também podem ouvir música com os Elite, com as almofadas de Alcântara! Piadas à parte, a Meze pensou em dois tipos de conforto, mas também em dois tipos de som. Já lá vamos. Quanto ao cliente que exige algo mais que som pelos seus 4 mil euros, Meze got you covered!

Conforto.

Meze Elite

Estes Meze, apesar do aro em fibra de carbono e da película fabricada pela Rinaro utilizada nos drivers pesar menos de uma grama cada, não são propriamente uns auscultadores ligeiros. Ao lado dos 99 Classics parecem pai e filho. Mas o peso é distribuído de forma equitativa pela cabeça pelo aro de pele. O aperto também é muito bem medido. A minha experiência foi que são possíveis longas sessões de audição sem qualquer cansaço. A minha média é começar pelas 22horas e terminar entre a 1 e as 2 da manhã. A utilizar os Elite dei por mim a prolongar as audições noite dentro.

Então e o som?

Meze Elite

Se viermos de uns auscultadores dinâmicos, com boa sensibilidade como os Classics, em audição imediatamente anterior, convém aumentar o volume para atingirmos o mesmo nível de pressão sonora, entre 4 e 6dB. Embora os Elite sejam auscultadores relativamente fáceis de excitar, talvez por serem isodinâmicos, exigem um pouco mais de esforço no botão de volume. No M2tech Young IV, com o volume em menos quarenta decibéis, a ouvir Morphine, medi picos de 75dB. Normalmente ouço música mais baixo, exceto em audição crítica ou música clássica onde chego a níveis de pressão sonora de algumas salas de demonstração high-end…

A primeira parte deste teste refere-se ao uso das almofadas de ouvido em pele, uso que dei durante grande parte do tempo que os Elite por cá estiveram. Por razões estritamente de gosto pessoal. As almofadas de Alcântara, não são nem inferiores nem superiores, nem em conforto nem na qualidade sonora, apenas são diferentes em ambos os aspetos. Aqui entra apenas uma questão de gosto pessoal.

Então com os earpads de pele:

Meze Elite

Imediatamente salta aos ouvidos o compromisso que os Elite permitem. Os audiófilos vão poder adjectivar na mesma cada nota e cada nuance, mas sem arranhar a musicalidade às vezes perdida nesse caminho. Os pormenores são escavados da música de forma a não nos distrair da música em si. A microdinâmica é impressionante. O contexto musical, a textura de cada nota, principalmente nos baixos, que têm kick na medida certa. O timbre soa realista. Atinge-se o equilíbrio entre a riqueza e o pormenor. Gostei também da sensação de espaço que estes Meze permitem.

Meze Elite

Em “Sleep Walk” de Marissa Nadler, a reverberância utilizada na gravação, que pretende dar o tom etéreo à música, que por vezes se torna incomodativa noutros auscultadores, aqui atinge a doçura pretendida. A pedaleira, com efeito do baixo, no início de “Roads” dos Portishead, também cansativo noutros equipamentos, aqui apresenta-se com perfeito equilíbrio entre o músculo e a musicalidade. A voz de Beth Gibbons é doce, mas sem enjoar. O que nestas duas gravações nem sempre é fácil.

Meze Elite

“Jesus Gonna Be Here” de Tom Waits, album “Bone Machine”. Os transientes e os espaços entre instrumentos são evidentes. O inglês tem uma palavra, “chestiness”, que assenta como uma luva em alguns intérpretes como Johnny Cash a cantar “One” dos U2, transmitido pelos Elite. 

No album “Mezzanine” dos Massive Attack, “Angel” é outro desafio, mas superado. Os baixos são precisos e musculados, sem magoar, e quando vem a massa sonora, os instrumentos, as máquinas, e os efeitos são perfeitamente distinguíveis, sem perder o contexto e o efeito pretendido de muro de som. Este é um disco escuro, que exige algum equilíbrio do equipamento de reprodução. Em “Teardrop”, mantém-se mais uma vez o equilíbrio entre o pormenor, a sensação de espaço e o corpo dos instrumentos (ou máquinas). 

Meze Elite

“Both Sides Now” de Joni Mitchell (versão com orchestra). Esta música foi escrita por Joni Mitchell menina, para que quando fosse mulher a pudesse cantar desta forma. Esta é a minha versão da história. E toco-a quando quero medir a carga emotiva de que o equipamento é capaz. É claro que nenhum equipamento é capaz de carga emotiva. Um equipamento é um conjunto de materiais inertes. Mas que podem fazer ganhar vida a sons. Sons esses que nos podem mover por dentro. “In a Lifetime” de Clannad com Bono é outra. O trio meloso completa-se com “Your Ghost” de Kristin Hersch com Michael Stipe. Confirmam-se as capacidades dos Elite, guitarra acústica com o timbre certo, baixos profundos e transientes de medida certa.

E agora a cereja no topo do bolo. “Udhero Na” de Arooj Aftab com Anoushka Shankar. Uau! A voz de Arooj trespassa-nos, a harpa tem um brilho e timbre perfeitos, e a cítara de Anoushka Shankar transporta-nos numa festa multicolor, voando sobre o Ganges.

Com os earpads em Alcântara?

“The Pros and Cons of Hitch Hiking” de Roger Waters. Aqui vou-me demorar. Este é um disco que aconselho em vinil. Porquê? Nem que seja para obrigar a ouvir seguido, de fio a pavio. Para ouvir a melhor guitarra de Eric Clapton, e porque não, se calhar o melhor disco de RW. Com pérolas como “Sexual Revolution”, “Go Fishing” e “The Pros and Cons of Hitch Hiking”, a música. Na atualidade alguns sentir-se-ão tentados a cancelá-lo. A esses eu não digo nada. Respeito as opiniões deles. Respeitem também as dele.

Alcântara. Menos kick nos graves, menor contexto, e maior brilho, embora talvez menor separação. Mesmo assim penso que a experiência nos earpads de pele, na minha opinião pessoal, é superior. Estamos a falar de diferenças pequenas, de diferenças de teste. Se se tratasse de auscultadores diferentes, a escolha seria derivada a outros fatores, não da diferença na qualidade de som. É bom poder trocar conforme cada ocasião. A Alcântara pareceu-me também que ficava um pouco mais quente em audições prolongadas.

Meze Elite

O elefante continua na sala. Mas então e os 4 mil euros? Estes auscultadores não são os únicos vendidos por valores deste calibre, nem serão os mais caros disponíveis. 

A discussão acerca dos valores pedidos por equipamentos de alta-fidelidade é uma questão que não irei debater, desta vez. Cada qual é que sabe se gasta em FIAT, Mercedes ou Ferrari. Diz respeito a cada um.

Meze Elite

Uma coisa é certa, os hábitos mudaram, muitos de nós não terão oportunidade de realmente apreciar um bom sistema, de elementos, de eletrónica com um par de colunas. Por várias razões. Eu testei estes Meze com um M2tech Young IV, complementado com fonte de alimentação Van der Graaf, alimentados por conjunto Apple TV e televisor. O valor do conjunto, incluindo os Meze, ronda os 8 mil euros. Convido a montar um sistema, com uma experiência sonora similar a sistema, com os Elite, mais o conjunto da M2tech, mas com amplificador, colunas e cabos. E depois de tudo somado, vejam quanto daria.

Meze Elite

Eu sei do que estou a falar. Com a oportunidade de estar com os Elite por uns tempos foi-me dado um saborzinho do que são capazes. 

Mas agora foram-se embora. E fica o amargor da perda. 

Como Sandman, devia ter-me deixado ficar pelo bilhar das quintas-feiras à tarde, ou desfrutado da jóia rara?

especificações técnicas

Meze Elite

Driver Type

Rinaro Isodynamic Hybrid Array®

Operating Principle

Open

Ear Coupling

Circumaural

Frequency Response

3-112.000 Hz

Impedance

32 Ω

Nominal SPL

101 dB (1 mW / 1 kHz)

Maximum SPL

> 130 dB

Total Harmonic Distortion (THD)

<0.05%

Weight

420 g

MZ3SE DRIVER SPECIFICATIONS

Geometrical Shape

Ovoid

Size

102 mm x 73 mm

Driver Weight

75 g

Casing

Fibreglass reinforced polymer

Diaphragm Type

Rinaro Parus® [MZ3SE]

Active Area

4650 mm2

Diaphragm Weight

0.11 g

Acoustic Mass

7.5 kg/m4

Lower Frequency Limit

3 Hz

Upper-Frequency Limit

112,000 Hz

DISPONÍVEIS EM:

Equipamentos presentes neste teste:

  • Headphones > Meze Elite
  • DAC/pré-amplifier/HeadAmp > M2tech Young MkIV
  • Power Supply > M2tech Van der Graaf MkII
  • Power cable > Furutech Slimline
  • digital source > Apple TV 4K + Hisense TV
  • digital source > MacBook Air 
  • USB cable > Ansuz Digitalz
  • power distributor > Ansuz Mainz X-TC
  • Power cable to the distributor > Ansuz P2