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Porto Hi-fi’22

Pais não são audiófilos!

Pais não são audiófilos! o Bigodes escreve mais uma vez o que lhe valerá o crucifixo nas redes sociais.

As redes sociais e a Alta-fidelidade é tema sobre o qual me debruçarei muito em breve, mas para já, pais, filhos e eventos audiófilos.

O Bigodes é pai de três. De três, e pequenos. Ser pai implica um sem número de compromissos. E quando digo um sem número, quero dizer um número tão grande, que não caberá no painel de um daqueles novos integrados inteligentes. E quando a três filhos juntamos 2 animais em casa, alguns em situação similar em números mais contidos poderão ter pena de mim. 

Amplificadores a válvulas? Se calhar é melhor não. Colunas despidas das grelhas? Se calhar só durante a sessão de audição. Sessão de audição?! Se calhar é melhor marcar na agenda, se não formos um dos felizardos que têm direito à sua man cave.

E porque raio o Bigodes vem para aqui queixar-se de ter uma casa cheia? Este audiófilo tem um emprego que lhe exige mais que as 40 horas. A que juntou esta nóvel atividade de vos fazer chegar umas linhas e uns grunhos acerca de Alta-fidelidade. Não é frequente poder passar tempo nas lojas de equipamentos. 

Quando um distribuidor de material de Alta-fidelidade decide vir ao Porto, cidade com apenas duas lojas da especialidade, o audiófilo da Muy Nobre, Leal e Invicta cidade tem tendência a achar que se trata de um Evento, um Evento com E maiúsculo.

Ora este pai de crianças pequenas, começa logo a fazer contas de cabeça: “para onde raio vou endereçar os herdeiros durante uma tarde?” As vítimas serão os avós do lado da mãe, do lado do pai, os tios? A equação tem muitas variáveis.

Resolvido o imbróglio, enviados os miúdos para a avó, que até agradece o privilégio, “que venham mais vezes ao Porto, esses tais de Ajasom” toca a rumar ao The Yeatman Hotel.

O sábado 15 começou solarengo, mas rapidamente se tornou numa característica tarde de outubro no Porto. Húmida e cinzenta. Pelo menos como era, antes da alterações climáticas tornarem o Porto numa cidade com clima para turista ver.

São Pedro criou o quadro perfeito para uma tarde de audições, fechados num hotel. 

Sobre o hotel. O Yeatman, e a sua atmosfera romântica e requintada, com uma vizinhança de caves de vinho do Porto, poderão constituir um dos melhores cenários para este tipo de eventos. A repetir.

O menu completou-se com a simpatia e bem-receber da equipa da Ajasom, bem como com os 3 sistemas presentes, com sinergias quanto a mim, muito bem estudadas. Para diferentes gostos, e claro, diferentes carteiras.

O sistema presente na sala Madeira:

Colunas Vivid Audio k90

amplificação Mola-mola, pré Makua e monos Kaluga

fontes: leitor CD/SACD Esoteric K1X; prato Bergmann Galder, braço Odin e célula Lyra Etna Lambda SL;

Cabos e filtro Shunyata

Rack Finite Elemente

Este era o sistema bandeira presente, e como normalmente nestes sistemas em que o valor gasto não é uma das maiores preocupações. Em termos técnicos, tratou-se de um sistema flawless. 

A escolha musical, pelo menos durante a nossa presença, passou pelas habituais escolhas audiófilas de alguns trechos de música clássica e standards jazz. Os ideiais para demostrar as capacidades técnicas do sistema. Tridimensionalidade que encheu perfeitamente a imperfeita sala para audições deste calibre, com perfeita localização dos instrumentos, mesmo nos trechos orquestrais mais complexos.

Transientes… Esperem, esperem!! O Bigodes promete que não volta a entrar no vocabulário exclusivista audiófilo. Imaginem que cada nota tocada traça um gráfico de dois eixos imaginário. Então neste sistema os supostos gráficos, especulo, que sejam do mais próximo ao momento da gravação, como se a música estivesse a ser interpretada lá dentro da mesma sala. Dinâmica tirada dos pés do Ronaldo, o fenómeno, com perfeita interpretação e inteligibilidade no momento da receção da bola, antes do arranque fulguroso. E goloooo!! 

Mas o festejo não era da torcida canarinha, com explosão de confetis, pois quanto a mim, e apesar do realismo das vozes, tivemos um realismo rigoroso e formal. Faltou a emoção estar ao mesmo nível, como normalmente acontece nestes sistemas tecnicamente mais próximos da perfeição. Quanto a isso já volto, daqui a pouco, pois o Bigodes e sua companhia encontraram um sistema que os preencheu neste quadrante. Mas como mandam as regras, deixei este sistema para o fim.

Sala Minho:

Colunas PMC Twenty5 26i

Amplificação integrado Hegel H390

Fontes: Streamer HifiRose RS150 e servidor Roon Nucleus +

Cabos Kimber, Furutech e Shunyata

Filtro Shunyata Venom

Rack Bassocontinuo

A sala com a escolha musical mais variada e menos presa ao dogma audiófilo. Nada acontece por acaso, e fica aqui um tema para uma futura dissertação do Bigodes sobre este assunto.

A personalidade decidida do integrado da Hegel ficou aqui patente, com a interpretação que casou quase na perfeição com as torres PMC. Apontamento para os graves, que me pareceram um pouco exagerados para a sala. Mas aqui sou eu se calhar a ser picuinhas, pois a sensação que ficou quando voltei a casa, e pude ligar de novo o meu sistema principal, é que o que tenho é apesar de tudo, é curto, e que tenho de me esforçar mais, de trabalhar mais, para poder “chegar” um sistema do mesmo calibre do da sala Minho.

Como mandam as regras, o melhor ficou para o fim…

Sala Dão:

Colunas Blumenhofer Genuin FS3

Amplificação pré e monos Thöress FFPRE e SE300B a válvulas

Servidor e DAC a válvulas Lampizator Gulfstream e Baltic3

Switch Innuos Phoenix

Cabos Kimber, Furutech e Shunyata

Régua Furutech

Rack Finite Elemente

Minhas senhoras e meus senhores. Este rapaz, adepto fervoroso de uma boa implementação classe A/B a transístores, converteu-se. 

Fez-se luz. Luz e magia alimentada a válvulas! Tinha-vos falado do primeiro sistema, que me fez abanar o pé, mas emotivamente não me encheu as medidas. Este sistema, com colunas de 92dB de sensibilidade e amplificação classe A de 10W a válvulas. E o pré Thöress FFPRE, que pode ser exibido com orgulho no topo de qualquer rack.

Foi por aqui que as vozes brilharam. Não pela reprodução próxima daquilo que imaginamos ter sido a original, onde também impressionaram, mas pela forma como a música nos agarra pelos colarinhos, nos entra pelos ouvidos, com via direta ao coração. Neste caso eu teria preferido escrever em inglês. The music gets us in the guts

E não é por isso que ouvimos música, para atingir determinado nível emocional? O Bigodes não vos vai maçar com as razões, com os transientes e outras audiofilices, aqui falou a emoção!

Que bem que se passou esta pequena fuga aos pequenos! O tempo quando se passa bem, passa num instante. E foi num instante que se passou esta pequena janela audiófila neste fim de semana.

Valeu também para evangelizar a mãe. 

Voltei para a alegria dos pequenos, a confusão de todos a falar ao mesmo tempo, a quererem algo da mãe ou do pai. O pai a querer ouvir musica e a única hipótese que tem serem os auscultadores…

Por isso corrijo o que disse inicialmente: Pais não têm o direito de ser audiófilos!