Apesar da analogia barata a que este escriba não resistiu, de facto este integrado deu-me todas as dicas para cair no cliché de usar a música de Toto Cotugno. Seja o cuidado óbvio que este amplificador teve na fase de estirador, como nos aspetos do interface de utilizador, ou na personalidade sónica que demonstrou.
O amplificador integrado Serblin & Son Frankie é um classe A/B push-pull com arquitetura baseada em circuito proprietário desenvolvido internamente pelo fabricante, debita 75 Watts a 8 Ohms e 110W a 4 Ω, com alimentação por transformador toroidal – sempre uma boa notícia.
Segundo a informação fornecida pelo representante em Portugal, todos os componentes são de qualidade superior, especialmente quando comparados com a maioria dos concorrentes na mesma faixa de preços.
O volume é controlado por um banco de resistores fixos comutados por relés, com 127 passos, o que também se revela positivo. O botão rotativo de volume liga e desliga o amplificador, que desliga automaticamente após 20 minutos sem receber sinal.
O Frankie vem equipado com estágio de phono MM e MC, comutáveis por botão, e configuráveis também no painel traseiro por dip switch, com 6 bandas por canal. Coisa rara num integrado, não só pelo preço do conjunto, mas principalmente pela qualidade evidenciada.
Além da possibilidade de ligar o prato lá de casa, este integrado pode receber mais 3 fontes analógicas, (1 delas balanceada) e 2 digitais (1 ótica e 1 coaxial). A tomada USB-A serve apenas para carregar outros dispositivos.
Este amplificador tem a possibilidade de ser controlado pelo telemóvel ou tablet, através da app IOS ou Android, que pode funcionar como alternativa ao comando remoto. Na unidade cedida para teste é todo o Bluetooth que irão encontrar, pois embora venha equipada com um DAC (de muito alta qualidade diga-se de passagem), não trazia módulo de streaming.
O que os olhos vêm:
“Beauty is in the eye of the beholder”, ou se preferirem em português, gostos não se discutem. Mas deitem os olhos a esta beleza italiana!
Habituados a uma caixa retangular metálica? Aqui não, não senhor. Aqui temos uma caixa com cantos arredondados, de nogueira italiana maquinada com topo e base em alumínio acetinado e espesso. Da nação onde tudo é desenhado com gosto e cuidado, não se esperaria outra coisa.
A frente é simples, dominada pela madeira amaciada com acabamento mate (de tratamento manual, não químico), com “Frankie” gravado em baixo relevo no lado esquerdo. O nome do amplificador é uma homenagem a Franco Serblin, tio do fundador da marca Fabio Serblin. Franco, conhecido por ter sido o fundador da Sonus Faber, e também da marca de colunas que agora ostenta o seu nome. Do lado direito, dois botões rotativos metálicos (polidos à mão). O primeiro, a contar da esquerda, liga e comanda o volume; o outro muda a fonte. Entre eles, as “luzinhas” que indicam a fonte que estamos a ouvir. Já lá vamos a este assunto.
“Eu li Franco Serblin?” – Leram, por isso neste momento afigura-se obrigatório esclarecer os curiosos, o que me leva à história da marca.
Fabio, depois de colaborar com o tio nos dois projetos mencionados anteriormente, terá seguido o seu caminho. Que incluiu a produção para outras marcas, a importação de equipamentos, e a produção própria, com a Fase Evoluzione, e depois também com a Serblin & Son. Ainda bem que sim, Fabio. Para já, pelo que os olhos vêm, já começou por convencer. Falta vermos como é viver com, e também como canta o Frankie.
Viver com o Frankie.
Este integrado mora cá em casa há uns meses. Gabo a paciência do Filipe Santos da Home Audio, representante em Portugal da marca italiana. Tive tempo suficiente para ver, viver com e ouvir este amplificador, e poder deixar aqui uma perspetiva verdadeira e realista do que o potencial comprador pode esperar.
Mas primeiro, um parêntesis: como consumidor, sou tifosi do fabrico italiano. O meu terceiro carro foi um Alfa Romeo 147, e a partir daí, comprei sempre italiano. Embora atualmente, por obrigações familiares, conduza no dia a dia, e pela primeira vez durante quase duas décadas, um veículo de sete lugares não italiano. Mi scusi. Na garagem, ainda mora um Alfa, um 75, e claro, com uma série de italianices… Que são características que visam atingir um determinado fim, mas que nem sempre respeitam a vontade do responsável pela ergonomia no gabinete de design. Nomeadamente, a suspensão traseira De Dion com diferencial autoblocante mecânico, tendo os discos de travão acoplados (sim, as rodas não têm travões à vista); o travão de mão, que neste caso é uma peça que estamos acostumados a ver em aviões, não para travar, mas para descolar; operar o rádio é operação impossibilitada pela manete de velocidades; o que para mim não é problema, que tenho Pavarotti e Maria Callas a morar no tubo de escape…
O Frankie, sendo un italiano vero, não poderia fugir ao seu ADN: entre os dois botões rotativos frontais, temos as luzes que indicam a fonte selecionada. A primeira a contar de cima refere-se ao gira-discos, e ao mesmo tempo à fonte digital, sendo possível comutar entre ambas com um botão no painel traseiro, e, quando ligamos a fonte digital, comuta automaticamente. A sério, Fabio? É claro que, sendo italiano, seria impensável violar o design do painel frontal. Como te compreendo. Entretanto esta peculiaridade foi repensada nas novas unidades que são atualmente comercializadas, passando a seleção entre cada uma das fontes a ser feita de forma linear e transparente pelo botão rotativo do lado direito. A cada luz corresponde uma fonte.
Como canta o Frankie?
Ouvi o Frankie com o gira-discos New Horizon 129 cedido pela Home Audio para teste do estágio de phono, e também com o prato cá residente, o MoFi StudioDeck, ambos com células MM. O teste ao prévio presente neste integrado com célula MC ficará para outras núpcias. Para efeitos de comparação, ouvi-o também com o andar de phono externo Rothwell Simplex. O estágio de phono deste integrado não se deixou intimidar com a comparação com o prévio externo. Ambos tocaram a meu gosto embora com assinaturas sonoras distintas. O interno do frankie mais analítico, e o Simplex mais quente. O meu conselho para quem apostar neste amplificador será experimentar tocar os seus discos com o prévio integrado, e se tiver a possibilidade, comparar com um andar de phono externo. E depois tirar as suas próprias conclusões perante o seu gosto pessoal.
No digital utilizei a entrada ótica, e fiquei impressionado com a qualidade do DAC integrado, que nesta gama de preço já teria de ser mais do que apenas capaz, mas não a este ponto. Um boa surpresa.
Então a que soou o Frankie?
Vozes femininas. Imediatamente, o timbre pareceu procurar mais a fidelidade à fonte do que o adocicar da realidade, embora sempre num registo a pender muito ligeiramente para o quente, com boa definição de textura. Ouvi “Meravigliosa Creatura” e senti a textura do contrabaixo e da rouquidão de Gianna Nannini. Os transitórios apresentam-se bem definidos, muito graças ao excelente nível de ruído (baixo), mas sem este aspeto pretender chamar a atenção para si próprio.
O dueto de “Lakmé” de Delibes, “Fascinação” e “Romaria” de Elis Regina encantaram-me de forma ainda mais profunda do que o costume. Os músicos aparecem bem definidos no espaço, em “Exodus” de Bob Marley & the Wailers, mas sem as suas arestas aprecerem desenhadas “afiadas” como outros equipamentos parecem tentar. O palco é largo para lá das colunas, com uma razoável profundidade.
Piano? Em “Porto Sentido” de Carlos do Carmo com Bernardo Sassetti, faixa que tantas vezes me causa calafrios noutros equipamentos, aqui, com o Frankie casado com as monitoras Indiana Line Diva 252, aproximou-se do timbre que imagino próximo do ouvido na sessão de gravação, e sem o brilho excessivo que muitas vezes me provocou calafrios em outros equipamentos.
Esta música funcionou como mais uma montra do ‘low noise floor’ deste amplificador. Ataque competente, dinâmico e pujante, mas sem ser avassalador em “Quatro Estações” de Vivaldi.
As vozes masculinas: “The Sound of Silence” de The Ghost of Johnny Cash, demonstraram ter uma farta caixa torácica, apesar da caixa diminuta das monitoras usadas neste teste.
Este Frankie demonstrou ser un italiano vero, não só pelo cuidado posto nas suas linhas, mas também por refletir alguma teimosia do designer em ceder em um ou outro aspeto estético em relação aos ergonómicos (entretanto resolvidos), mas sobretudo pela sua personalidade sónica, que, apesar de ser capaz de destrinçar os mais finos detalhes e nuances, também demonstrou o músculo e determinação latinos. Parabéns, Fabio, este integrado é uma grande homenagem ao tio Franco!
Equipamentos utilizados neste review:
- amplificador integrado com andar de phono e DAC: Serblin & Son Frankie EX (gentilmente cedido por Home Audio)
- gira-discos: MoFi StudioDeck (gentilmente cedido por Ultimate Audio); New Horizon 129 (gentilmente cedido por Home Audio)
- colunas monitoras: Indiana Line Diva 252 (gentilmente cedidas por Home Audio)
- Prévio de phono externo: Rothwell Simplex (gentilmente cedido por Autumn Leaf Audio)
- Cablagem: Ansuz Mainz e Ansuz Speaks (gentilmente cedido por Autumn Leaf Audio)