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Última Session do verão, ao pé de Serralves.

Última Ultimate Session do verão. Ali, ao pé do Jardim de Serralves.

Este tem sido um início de verão hesitante, com um clima que não se decide se entra no verão ou retrocede ao inverno, com temperaturas a roçar os 30 graus ou chuva ocasional. Esta foi uma manhã molhada de verão no Porto.

Para encerrar a temporada, antes de entrarmos na Silly Season, a Ultimate Audio Porto serviu mais um menu de degustação high-end, com uma das melhores simbioses que conheço no mundo do áudio: amplificação Gryphon a alimentar colunas Kroma Atelier. 

Do lado das fontes digitais, as honras couberam ao fabrico nacional, com o DAC Galle da Cinnamon e o server e PSU Statement NG da Innuos, assistidos pelos clock e network switch da Silent Angel Genesis GX e Bonn NX. Do lado analógico, uma coligação nipo-americana, com deck e braço Luxman PD-151 MkII, célula Hana Umami Blue, e andar de phono MoFi MasterPhono. O tratamento da corrente ficou a cargo também da Gryphon, com o purificador de corrente Powerzone 3, e a cablagem da Siltech e QSA Lanedri.

O Gryphon Diablo 333

Este integrado pode ser encomendado na sua forma simplificada de “apenas” um amplificador analógico, ou com os módulos opcionais de phono e DAC, resolvendo assim o “problema” das caixas adicionais.

O modelo antecessor a este 333, e que com o seu nascimento ficou descontinuado, foi o 300, que foi um sucesso de vendas. O 333 é um amplificador com 333 watts por canal a 8 ohms, dobrando a potência para 666 (o número da Besta!) a metade da impedância, e debitando 1100W a 2 ohms, para quando as colunas lá de casa quiserem ser tinhosas e for preciso ter rédea curta!

Os set-ups que tive a oportunidade de ouvir com amplificação Gryphon deixaram-me normalmente de queixo caído (estou a lembrar-me, por exemplo, de outro casamento fabuloso entre Gryphon e Kroma Atelier, neste caso dos monoblocos Apex com as torres Mercedes, nas Ultimate Sessions Extreme’23)

As Kroma Stella

Estas colunas de 3 vias, com woofers e altifalantes de médios da Purify e tweeter AMT de neodímio da Mundorf, têm caixa em Krion (compósito de resina e trihidrato de alumínio, material não condutor e não magnético, segundo a descrição da Porcelanosa, a fabricante e detentora da patente). Este material é conhecido pelo uso em quartos de banho, cozinhas ou revestimentos de edifícios. Cada placa de Krion empregue na construção destas caixas tem 12mm de espessura.

A assinatura sonora deste conjunto fez-me lembrar algo entre os sons praticamente sem coloração de umas Rockport ou Stenheim por exemplo, mas na minha opinião mais a tender para o que nos habituamos a chamar de “orgânico”, e menos para o estéril.

Estas colunas assentam o seu peso de 43kg para 1,15m de altura em pés fabricados pela IsoAcoustics.

Salta imediatamente à vista (ou aos ouvidos) o controle diabólico sobre os graves. As vozes soaram articuladas e com uma tonalidade natural, e oos agudos clarinhos como água fresca. O palco sonoro? Fosse o auditório da Ultimate mais largo e profundo, maior seria o “tamanho” da música. A audição fora da posição de audição ideal foi surpreendentemente envolvente (o que nem sempre acontece). No sweet-spot, a imagem sonora pareceu-me naturalmente perfeita.

Por vezes, dou por mim a esquecer o que vim fazer a um evento áudio: captar para depois relatar. O que ouvi, vi e senti. Em algumas ocasiões, perco-me em mim próprio, e fico ali a desfrutar das sensações que ouvir música em determinadas combinações de equipamentos nos permite. É quando me esqueço de onde estou, do que fui lá fazer e do meu papel, para apenas estar ali a desfrutar.

O que se ouviu por lá?

“St. James Infirmary” de Baba Blues. Este tweeter AMT da Mundorf está mesmo no limite do melhor que se pode ter. Esticá-lo mais um pouco e seria demasiado.  

“Purple Rain (Acoustic)” de John Adams. “Summertime” de Patricia Barber. Estes graves… bem, estes graves são qualquer coisa. É como se se tivesse tentado fazer algo com um equilíbrio perfeito entre o excesso e a contenção, mas, à última hora, se tivesse dado um cheirinho de nada de prevalência ao excesso. E naquela medida exatamente certa. Este grave mexe mesmo, literalmente mexeu o cabelo que não tenho: “Se Masticó la Tragedia” de Ultra High Flamenco.  

É do jargão audiófilo apelidar os graves de serem físicos. Graves verdadeiramente físicos: “You and Me” de Wynton Marsalis. Aqui ainda podemos acrescentar a textura e o kick. Outro exemplo?: “Drum Solo” de GOJIRA.

E pulmão? “The Sound of Silence” de The Ghost of Johnny Cash.  

Não será aquilo que mais se destacou à primeira vista, mas a naturalidade das vozes e instrumentos acústicos é deliciosa. “Fast Car” de Frau Contrabass.

“Connecting the dots”. Expressão em inglês que encaixa neste conjunto como uma luva. Todos os marcos geodésicos musicais estão lá. Este conjunto faz deles um todo lógico e com sentido: “Alternate One” de Clark Terry, Dizzy Gillespie, Freddie Hubbard & Oscar Peterson.  

E a clareza dos tweeters? Este AMT da Mundorf parece ter sido feito para este trompete.  

“With All My Love”, música de Melanie De Biasio que descobri numa session da Ultimate Audio. Ainda bem que a descobri. E ainda bem que voltei a ouvir Melanie De Biasio, pois ouvi-a no seu melhor graças ao feliz casamento Kroma com Gryphon.  

Continuando no registo sentimental, “Beat” de Tingvall Trio e “Trem Das Onze (Multishow Ao Vivo Caetano E Maria Gadú)” de Caetano Veloso.

Esta foi uma manhã molhada de verão no Porto.

Mas que bem casam as Stella com este Diablo. Casamento molhado, casamento abençoado.