Read the Matrix TS-1 streamer / Head-Amp review in English
Matrix Audio TS-1, De Quantas Caixas Precisa um Homem Para Ouvir Música?
A pergunta ressoa entre salas de estar e salas de audição. Uns respondem empilhando componentes como alvenaria de uma catedral gótica de som. Outros encolhem os ombros, ignorando a complexidade.
Numa era em que cabem 100 milhões de canções no bolso, ficará a excelência sonora refém de meia dúzia de caixas separadas? É neste campo de batalha filosófico que se posiciona o Matrix Audio TS-1. Não como diplomata, mas como provocador calmo.
Um elegante concentrado de pré-amplificador, leitor de rede, DAC e amplificador de auscultadores. Tudo numa única caixa de alumínio maquinado. Desafia décadas de dogma de elementos separados, com a audácia tranquila de quem acredita que menos pode ser mais, se for bem feito.
Engenharia Silenciosa

O TS-1 apresenta-se como um objeto que se deixa contemplar antes de se escutar. O chassis em alumínio é uma escultura maquinada que parece ter saído das mãos de um relojoeiro suíço.
Na frente, o display tátil ocupa toda a superfície, confiante e sóbrio, um aceno à estética da HiFi Rose, mas sem pedir desculpas. No topo, o logo Matrix repousa no centro da grelha de ventilação, ambos maquinados, porque o calor mata, e é no detalhe que mora a sedução.
Na traseira, a ambição manifesta-se:

- uma entrada RCA analógica,
- Entradas digitais em abundância (coaxial, ótico, HDMI ARC e dois USB-A),
- porta de rede RJ45 e recetor wireless.
Nas saídas, a versatilidade continua: subwoofer out, par RCA e XLR para amplificação externa ou colunas ativas. Quando o liguei ao Accuphase E-280, a química foi instantânea. A simbiose foi perfeita. Há ainda tomada IEC e opção para Power Supply externo.
Esteticamente, o TS-1 não esbraceja. Impõe respeito pela qualidade percecionada. Pode ser exposto com orgulho, não impressionando com luzes ou cromados, mas talvez provocando a pergunta em voz baixa: “Espera lá… quanto disseste que isto custou afinal?”
Mais do que Desktop Audio

É fácil atirá-lo para a categoria “desktop audio”. Mas seria preguiça. O TS-1 mostrou ter pulmão para muito mais. A Matrix prefere chamá-lo Audio Center. E faz sentido.
Ele pode ser a ponte entre fontes analógicas e digitais, comandar colunas ativas ou até alimentar um sistema completo com simplicidade e discrição.
Na frente, duas saídas de auscultadores:
- jack 6,35 mm,
- balanceada de 4,4 mm. A sua presença anuncia intenções sérias, confirmadas nas últimas horas de convívio com este Matrix.
A minha veia de engenheiro sorriu perante a arquitetura interna:
Circuitos digital e analógico em placas separadas, com perfeita simetria entre canais. Cada canal com o seu próprio chip DAC AK4493SEQ. Clocks duplos Femtosecond. Segundo a marca, níveis de jitter tão baixos que só faltava um diapasão de cristal para os afinar.
Ligações, Integração e Vida Real

Atrás, podemos ligar um disco externo ou NAS. Podemos aceder a serviços de streaming, como o Qobuz com fluidez e facilidade de utilização. O AirPlay funciona sem drama. O Qobuz Connect ainda não estava disponível aquando deste teste (entretanto passou a estar após a devolução desta unidade), mas estava integrado na app MA Remote de forma tão intuitiva e fácil de utilizar que até me fui esquecendo de utilizar o Roon. E cá entre nós não senti falta.
Durante os dias que tocou cá por casa, o TS-1 não pediu protagonismo. Limitou-se a funcionar, e a funcionar bem. O ecrã tátil e a aplicação respondem com naturalidade e rapidez. A tecnologia impressiona, sobretudo quando desaparece.
O Sistema

As audições ocorreram em contextos variados: noites após as tarefas familiares, tardes de fim de semana em que a casa respirava em silêncio. O TS-1 foi ligado às entradas balanceadas do Accuphase E-280, com cabos XLR da Oyaide. A rede foi limpa pelo iPurifier Pro, enquanto as Revival Atalante 3 receberam corrente através de cabos de coluna Ansuz.
Nos auscultadores, até ao penúltimo dia, usei os Meze 99 Classics pela saída 6,35 mm. E no último dia antes de devolver o Matrix, chegaram os Heddphone Two GT que liguei na saída balanceada Pentaconn. Ouvi noite dentro…
Impressões Sonoras

Foi neste sistema de personalidades fortes que o TS-1 revelou a sua, por vezes antagónica com o resto do conjunto. Trouxe arestas mais vincadas a um conjunto habitualmente mais cortez. Grave mais redondo, transientes mais decididos, palco mais recortado. Em comparação com o DAC residente, o Fezz Equinox by LampizatOr, mais caro sozinho do que este tudo-em-um, o TS-1 não se encolheu. Em alguns aspetos superou. Noutros, nem por isso.
Mas sabemos como é: o som mede-se com os ouvidos… e com o diferente gosto de cada um.
O que andei a ouvir

You and Me, Wynton Marsalis – ataque rápido e preciso, desafiando a suavidade do Accuphase, trazendo uma energia vibrante a esta faixa.
My Funny Valentine, Chris Botti & Sting – trompete acutilante, decidido. A combinação do TS-1 com o E-280 sabe a chocolate negro com malagueta, a caramelo salgado, a presunto com melão, contrastes improváveis que, juntos, funcionam.
Mudar de Vida, Gaspar Varela & Ricardo Toscano, (do original de Carlos Paredes) – a textura do sax provoca arrepios, o TS-1 pisa a meta da transparência. Quase a um nível de outros elementos mais “galácticos”.
Across 110th Street, Bobby Womack – groove físico, grave redondo como bola de praia, na esplanada a sorver cerveja bávara e petiscos temperados com molho Sriracha.
Let’s Get It On, Marvin Gaye – transientes da bateria em foco, agudos luminosos, num palco sonoro mais frontal que profundo.
A Saída Balanceada

Se a saída de 6,35 mm cumpriu com competência, a saída balanceada de 4,4 mm foi onde o TS-1 realmente brilhou.
A simbiose com os Heddphone Two GT deixou-me triste por só ter tido esta combinação apenas no último dia da estadia desta unidade na Torre Bigodes, noite dentro.
Escala, detalhe, elasticidade, dinâmica. Aqui o TS-1 partiu a loiça toda. Mais musicalidade, mais emoção.
Messa da Requiem, Verdi / Giulini – ataque implacável, escala imponente. Volume alto obrigatório.
Ai Du, Ali Farka Touré & Ry Cooder – com ambas as guitarras a estalar e falar Timbuktu sob o sol do Mali. Extensão e energia sem pedir desculpa. Uma pena ouvir assim esta música preso a um cabo!
O que achei do TS-1?
Este Matrix, proposto por 2400€, oferece uma experiência sonora que rivaliza com sistemas compostos por múltiplos componentes, onde cada peça poderia ter o preço só do TS-1.
Com auscultadores à altura, como os Heddphone Two GT (2200€), a pergunta que se torna legítima é: para quê mais caixas?
O Matrix faz tudo, no mínimo bem, que a única razão para preferir empilhar caixas seria aquela busca teimosa pela perfeição que alguns, como eu, não resistem a perseguir. E tudo isto exige espaço, uma teia de cabos, e uma quantidade largamente superior de dinheiro.
O TS-1 pode ser tudo para praticamente qualquer um. Não é perfeito, mas é suficientemente bom para fazer pensar duas vezes antes de complicar.
Especificações
A “orquestra” que acompanhou o Matrix TS-1:
Comparei com o TS-1:
- Volumio Rivo
- Fezz Equinox, by LampizatOr
Colunas:
- Revival Audio Atalante 3
Auscultadores:
- HEDDphone Two GT
- Meze 99 Classics
Cabos coluna:
- Ansuz Speakz
Amplificação usada:
- Accuphase E-280
Filtro de rede LAN:
- iFi Silent Power LAN iPurifier Pro
Sistema de referência MoustachesToys
A unidade TS-1 usada neste teste foi gentilmente cedida pela Ultimate Audio, distribuidor oficial para o mercado português da Matrix Audio
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