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Aventuras Analógicas do Bigodes – MoFi StudioDeck review

Na minha infância, muitas vezes me cruzei, na Aldeia de Baixo, com um senhor que nós miúdos lá da terra chamávamos de Serafim Carpinteiro.

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

O meu pai foi serralheiro mecânico. Tem ainda hoje, mais de uma década após se reformar, umas mãos e dedos enormes e grossos. Em termos de comparação, tem dedos, grosso modo, do dobro do calibre dos meus. Mas se as mãos do meu pai pertenciam (e ainda pertencem) à Liga dos Campeões do tamanho das mãos, as mãos do Serafim Carpinteiro pertenciam a outra liga, à dos Galáticos do tamanho manual. Talvez por ter pertencido a um tempo onde tudo se aprendia por tentativa/erro (e ao erro se acrescentava a respetiva lapada no cachaço, cortesia do mestre). Pelo tamanho dos dedos e mãos, a pontaria não teria sido o forte do Serafim Carpinteiro. Por cada prego que martelou, com certeza dois dedos primeiro acertou. Terá sido assim a infância do Serafim Carpinteiro.

A partir daí, sempre que é preciso uma imagem ilustrativa de alguém que em princípio não prima pela delicadeza manual, eu e o pessoal da minha infância, lembramos o Serafim Carpinteiro e as suas mãos e dedos descomunais a abanar ao lado do topo das pernas, na ponta dos seus braços também compridos como remos, conforme caminhava decisivamente pelas ruas da Aldeia de Baixo de Pedrouços.

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

As minhas mãos, à beira das do Serafim, parecem mãos de pianista, mas face aos mecanismos de um gira-discos, comporto-me como o Serafim se comportaria a executar uma cirurgia cerebral, só ficam a faltar os suores frios. Por isso, uma das coisas que cedo aprendi a apreciar no meu recente regresso ao vinil foi a solidez de construção e dos componentes do StudioDeck. O gira-discos da MoFi agrada neste aspeto pela forma como o sinto quando o manuseio.

Isto junto com uma série de pormenores interessantes em termos técnicos, especialmente quando pensamos no valor que o fabricante pede por ele, este MoFi começa logo por encher as medidas de um amante de música que não queira gastar uma pequena fortuna no seu novo gira-discos. Para aqueles que como eu, vêm de muitos anos de uso exclusivo do digital, e para iniciar as minhas aventuras analógicas, ou até mesmo como solução definitiva. Eis um deck completo, com braço e célula já incluídos, para facilitar.

Construção

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

O sólido chassis em MDF assenta sobre pés com controle de ressonância da HRS – Harmonic Resolution Systems. A polia do motor em Delrin liga-se ao prato por uma correia de borracha laranja. O prato tem 1,7kg e é também fabricado em Delrin, um termoplástico criado pela DuPont com características físicas similares ao vinil. O prato assenta sobre rolamento invertido de inox com almofada de Teflon. O braço de alumínio do StudioDeck está presente também no modelo acima na gama MoFi, o UltraDeck, e tem 10 polegadas, uma característica que não me lembro de ver nesta classe de preço. É ajustável em peso da agulha, VTA, azimute e anti-skate. O exemplar residente na Torre Bigodes chegou com a célula StudioTracker já instalada, todo afinadinho de origem pelo Francisco da Ultimate Audio. O valor pedido por este conjunto é de €1749 (inclui também a tampa de plástico). Podendo ser encomendado sem célula por €1599, com a célula UltraTracker por €1999, ou com a MasterTracker por €2199. Todas as células disponíveis de fábrica no StudioDeck são de Magneto Móvel. Eu ouvi este deck num evento da Ultimate Audio (relato aqui) com uma célula MC Shibata da Hana (€690), e o salto na qualidade de som é substancial. Para quem tiver orçamento é um caso a pensar seriamente.

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

O braço desce de forma suave sobre o disco, e a agulha agradece. O botão On/Off ilumina-se de laranja quando ligado, o que faz um conjunto visual interessante com a correia da mesma cor. Para mudar de 33 para 45 RPM e vice-versa basta mudar a posição da correia na polia do motor.

Equipamento emparelhado

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

Este StudioDeck está cá residente há mais de meio ano, o que me permitiu desenvolver uma relação de conhecimento que normalmente seria impossível em equipamentos cedidos para análise. Normalmente os equipamentos chegam e quando começo a afeiçoar-me a eles (o que por vezes acontece) têm de voltar à proveniência. Este esteve ligado não só aos andares de phono do integrado Serblin & Son Frankie EX (review aqui) e do receiver Marantz Stereo 70s (review em breve), como também ao prévio de phono Rothwell Simplex. Com o Simplex tocou com o integrado Axxess Forté 1 (review aqui), com o AudioNote Cobra e com o Pier Audio MS-480 SE (reviews a estes três integrados publicadas nos próximos dias). Nas colunas já tocou com as Triangle Borea 03, com as Alacrity Audio Dundee 5, com as PMC Prodigy 5 e com as Bowers & Wilkins 607 S3 (reviews às PMC e B&W também por aqui e em breve).

Como soa o StudioDeck?

MoFi StudioDeck
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Unity de Larry Young: este disco é uma jam do orgão de Larry Young, do saxofone de Joe Henderson, do trompete de Woody Shaw e da bateria de Elvin Jones. É nos pratos da bateria de Elvin Jones, presentes de fio a pavio neste disco, e no risco de se tornarem demasiado abrasivos, aguçados, ou cansativos, que está o desafio. O que não aconteceu. Mesmo para os meus ouvidos educados pelo digital, o detalhe e clareza em toda a gama de frequências deste gira-discos são deliciosos.

Two Headed Freak de Ronnie Foster: aqui também o prato Ride de Jimmy Johnson me soa brilhante, mas sem ofuscar, no limite do agri-doce. Mais uma vez, a precisão é a tónica, acrescentando-se aqui o peso presente neste disco. Este gira-discos parece pensado para ouvidos com escola digital, habituados a procurar o pormenor. A música apresenta-se num quadro nítido, sempre sem perder o sentido da emotividade. Tal como em Unity, este quadro é nítido, mas com a chicha toda, ou seja um som cheio, com algumas gordurinhas (poucas) aqui e ali. Estas gordurinhas remetem ao Maradona em seus anos de glória, antes de cair nas garras da Camorra napolitana. A música soou sempre ágil e fluída. Em Two Headed Freap, a versão de Let’s Stay Together de Al Green brilha, com reprodução de todas as nuances que os intérpretes incutiram na música.

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

Common Touch de Stanley Turrentine: este disco é uma ode ao cool, e o StudioDeck está lá para interpretá-lo precisamente dessa forma, servindo-nos as nuances e pormenores na medida certa em que a música tem de provocar o nosso movimento. Eu, longe de ser um fanático destes sons, não consegui deixar de bater o pé ou abanar levemente o capacete aos sons de Stanley Turrentine, Shirley Scott e restante trupe.

Então e o Serafim?

MoFi StudioDeck
MoFi StudioDeck

Voltemos ao Serafim Carpinteiro. Imagino-o a voltar a casa, após mais um árduo dia de trabalho. Com ninguém a ver, na companhia de si próprio. Puxa de uma bolacha negra, e põe-na a tocar. Imagino-o com o StudioDeck, capaz de lidar com os seus grossos dedos e modos duros. Para contrabalançar, a sua assinatura sónica detalhada. A clareza, os graves definidos, os médios carnudos e os agudos brilhantes, o palco largo, fundo e definido. O Serafim, finalmente relaxado, a ouvir “Com Que Voz”. A capa de casca dura finalmente despida, sentado na sua poltrona, com a aguardente velha na mão esquerda, nas feições cavadas pelos elementos fitando, segura pela mão direita na capa do disco da sua fadista de eleição, Amália Rodrigues. Nesse momento, tudo se resume àquela voz

Especificações

Motor: 300 RPM AC Synchronous

Speed: 33 1/3 RPM, 45.0 RPM

Platter: 3.88 lb Delrin®

Wow & Flutter: 0.017% – 0.025%

Signal-To-Noise Ratio: 72dB

Power Supply Requirements: 120V 60Hz, 220-230V 50Hz, 100V 50Hz

Power Consumption: < 5W

Dimensions: 19.69″ x 5.375″ x 14.25″

Weight: 19.1 lb

Tonearm specifications

Type: 10″ straight aluminum, gimbaled bearing

Overhang: 0.71″ (18mm)

Offset Angle: 22.8˚ (+/- 2˚ adjustable)

Cartridge Weight Range: 5g – 10g

Features

• 33-1/3 and 45.0 RPM belt drive turntable

• Custom design and manufactured in the USA

• 10-inch MoFi Studio Tonearm

• 3/4-inch Delrin® platter

• Isolated 300 RPM AC synchronous motor

• Anti-Vibration feet designed by HRS

Product page

Equipamentos presentes neste teste

  • MoFi StudioDeck, turntable with tonearm and cartridge included (equipamento disponível em Ultimate Audio)
  • Rothwell Simplex, MM phono pre-amplifier (equipamento disponível em Autumn Leaf Audio)
  • Serblin & Son Frankie EX, class AB solid state integrated amplifier with MM & MC phono stage (equipamento disponível em HomeAudio)
  • Axxess Forté 1, class D solid state integrated amplifier ((equipamento disponível em Autumn Leaf Audio)
  • AudioNote (UK) Cobra, class A valve integrated amplifier (equipamento disponível em Exaudio)
  • Pier Audio MS-480 SE, Hybrid class AB integrated amplifier (equipamento disponível em HomeAudio)
  • Triangle Borea 03, monitor speakers (equipamento disponível em Ajasom)
  • Indiana Line Diva 252, monitor speakers (equipamento disponível em HomeAudio)
  • Alacrity Audio Dundee 5, floorstanding speakers (equipamento disponível em Autumn Leaf Audio)
  • PMC Prodigy 5, floorstanding speakers (equipamento disponível em Ajasom)
  • Bowers & Wilkins 607 S3, monitor speakers (equipamento disponível em Bowers & Wilkins Spain)
  • Ansuz cables and power distributor (equipamento disponível em Autumn Leaf Audio)