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Fezz Audio Silver Luna Prestige Evolution

Quando os transistores passaram a ser aplicados nos amplificadores, as válvulas passaram a ser consideradas uma tecnologia ultrapassada. Muito poucos fabricantes, de forma teimosa mantiveram viva a tecnologia, nesses tempos idos.

Tube bliss, Fezz Audio Silver Luna Prestige Evolution

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

As válvulas têm vindo a virar, lentamente, tendência de novo. A propósito de tecnologias supostamente ultrapassadas e que na minha opinião voltarão a ser tendência, decidi que para este teste irei utilizar maioritariamente CD e não streaming como é habitual, e aproveitar para tirar o pó ao meu velhinho leitor, comprado pelo meu pai no ido ano de 1991, quando a Pioneer era conhecida por fabricar equipamento razoável, e que durava uma vida. Este e todos os outros elementos do mesmo sistema da mesma marca duraram até hoje. Ou seja, uma vida.

Neste teste teremos o meu velhinho leitor de CD, as minhas modestas colunas monitoras de 90dB de sensibilidade, na minha sala com pouco menos de 25 metros quadrados. Tudo a acompanhar um integrado a válvulas, fabricado à mão na Polónia, país onde se realiza o segundo maior evento audio da Europa, em Varsóvia, só ultrapassado em dimensão pelo High-End Munique, e país de onde têm chegado muitos equipamentos interessantes. Vamos a ver se este amplificador acompanha esta tendência.

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

O integrado aqui em teste é o Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution, amplificador a válvulas classe AB push-pull. Silver Luna não se refere à cor, o exemplar que a Ultimate Audio Elite teve a gentileza de me ceder para teste é de uma cor que a marca chama de “Sunlight” e que parece um cruzamento de bronze com dourado, dependendo da forma como a luz incide sobre o chassis.

O que os olhos vêm.

Na frente: no centro vemos o lettering “fezz” rasgado na chapa, de onde espreita uma luz esbranquiçada que emana do interior quando o amplificador está ligado, que combina com a luz alaranjada das válvulas, que funciona lindamente quando estamos a média luz. Na frente também, um botão rotativo de cada lado. No lado esquerdo, para o volume, e à direita para seleção da fonte. Estes sim, prateados.

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

O Silver Luna vem com um comando tipo sabonete, num plástico branco brilhante, também muito simples e elegante. Pelo gosto que me deu rodar os botões, detentores de uma deliciosa resistência amanteigada, escolhi deixá-lo pousado a descansar na caixa.

Este amplificador é lindo de morrer, e as fotografias não lhe conseguem fazer justiça. Se Jony Ive, que para quem não sabe é um fulano parecido comigo, mas sem bigode, mas também é o famoso designer do iPhone, do iPad, do MacBook, iMac, entre outros produtos do renascimento da Apple, desenhasse amplificadores a válvulas, bem que poderia ter desenhado a nova gama de amplificadores Evolution da Fezz.

Até a esposa gostou e perguntou o preço! Não da forma amedrontada do costume, preocupada com o possível rombo que a conta bancária possa levar, mas desta vez (pela primeira vez) de forma desejosa de ter esta peça de decoração na sua sala.

Normalmente os amplificadores a válvulas são desenhados no modo form follows function (forma segue a função), o que resulta geralmente num caixote metálico, com umas válvulas espetadas por cima, uns caixotes também metálicos (onde se alojam normalmente os transformadores) a acompanhar, e uma gaiola por cima a proteger as válvulas dos dedinhos e patinhas curiosas de crianças e animais, e uns cabos a sair (ou entrar como preferirem) por trás.

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

A proteção metálica das válvulas é diferente de qualquer outra que eu já tenha visto em outros amplificadores a válvulas. Elegante, com frente em acrílico transparente, a exibir orgulhosamente as válvulas e as caixas metálicas redondas dos transformadores. Este integrado vem com três transformadores toroidais (o “power transformer” à frente atrás das válvulas, e os dois “output transformers” atrás deste, fabricados pela empresa irmã, a Toroidy), o que explica a forma das caixas, e também, e mais importante, o som de que este Fezz é capaz.

Até parece que estes polacos possam ter tido umas aulas de design na Bauhaus, e isso vê-se.

Este amplificador é senhor para 21kg. O que pode não facilitou a sua colocação dos seus pés de borracha em cima dos “pézinhos” de control de ressonância ajustáveis da Ansuz que utilizei neste teste. Toca a colocar as válvulas opcionais da PSVane (o preço de tabela de €2620 deste integrado dá direito a válvulas de origem, de fabrico Electro-Harmonix). Quatro válvulas de potência EL34 e duas 6N2P. Usei uma luva do par fornecido. Apenas uma para evitar eventuais escorregadelas, tal como aconselhou o Francisco Monteiro, da loja do Porto da Ultimate Audio. Quem não saiba também, fica a dica. 

As válvulas vêm testadas, e ordenadas de fábrica. O valor de tabela também não inclui a original e linda “gaiola” de proteção, o control-remoto, nem o conjunto de válvulas da PSVane que este exemplar trazia.

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

Cada amplificador traz também uma placa metálica, que neste indica que quem o montou foi alguém chamado Wiola, e quem testou se chamava Mavek, tal e qual num motor AMG da Mercedes.

Estas coisas da alta-fidelidade vão muito para além de “apenas” som. E a experiência de posse de um amplificador a válvulas passa também pelo momento da montagem. A experiência de posse prolonga-se à troca de válvulas para conseguir assinaturas sonoras alternativas. Este Fezz, além das válvulas 6N2P que utilizei, traz um par de válvulas de pré-amplificação 12AX7 para quem preferir a assinatura sonora de que são capazes. Basta trocá-las e escolher a posição no seletor que se encontra entre os transformadores de saída (com o amplificador desligado). Este botão seletor faz par com outro, onde podemos escolher, este com o amplificador ligado se quisermos, ouvir em modo tétrodo ou pêntodo. Conclusão: podemos ter quatro assinaturas sonoras com este amplificador, com as válvulas fornecidas de fábrica. Ah, e muito importante para o pessoal, que como eu, prefere deixar a chave de fendas de parte destas experiências, este amplificador é AutoBias. Ou seja, basta colocar as válvulas, e ligar o amplificador, sem mais. 

Ainda não liguei o amplificador e já cheguei a algumas conclusões. Maciej Lachowski procurou marcar a diferença e apontar a um público mais virado para o lifestyle. Com um design de linhas limpas e simplistas, com uma opção variada de cores (Preto – Black Ice, Grená – Big Calm, Vermelho – Burning Red, Branco – Bleach, Verde – Evergreen, Prata – Moonlight, Bronze – Sunlight), que mais parecem tiradas de um catálogo de decoração do que de um de eletrónica de consumo (mais uma razão para a minha mais que tudo me acenar com o cartão de crédito).

Permite trocar de sonoridade sem complicações. E por um preço que está longe de ser proibitivo, especialmente se pensarmos que é montado à mão, na União Europeia. A marca promete: 

  1. som excelente, já lá vamos. 
  2. Linhas modernas, check! 
  3. Fiabilidade; Pela qualidade percepcionada, promete cumprir neste capítulo. 
  4. Fácil configuração e cheio de opções, check!

Eu acrescentaria que qualquer alma que apenas conheça auscultadores bluetooth, mesmo que não tenha sido ainda apresentada ao maravilhoso e tortuoso mundo da alta-fidelidade, está preparada para avançar para a posse de este dispositivo. Tal é a facilidade, simplicidade e prazer da posse deste Silver Luna Prestige Evolution.

Nos últimos anos os equipamentos de alta-fidelidade têm assumido a categoria de produtos de luxo, e os seus preços têm vindo a disparar. Ainda assim, e este Fezz é a prova, que ainda é possível, tropeçar em algumas verdadeiras pérolas negras, de raras.

Trata-se então de um produto bonito e bem feito, fabricado à mão na Europa, e disponível a preços razoáveis para o comum dos mortais. 

O som.

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

Como referi anteriormente, a fonte principal utilizada neste teste foi o meu velhinho leitor de CD. Utilizei também um DAC chinês de importação direta para descodificação dos “uns e zeros” vindos do streaming, Apple Music e Tidal via apple TV e Televisor Hisense (via cabo ótico) e Macbook Air (via cabo USB).

Ao contrário do leitor de CD. Estas fontes têm alguma ligeira tendência para um som estéril, e um brilho por vezes um pouco intenso dos agudos. As colunas Borea 03 da Triangle têm palco sonoro “espremido” entre colunas e com sonoridade “in your face”, de pouca profundidade e com foco por vezes um pouco vago nos médios-altos e agudos nas sessões de audição longas. Eu adoro estas monitoras, continuo à espera de conhecer melhor compromisso abaixo de mil euros, mas pelo preço que paguei por elas não espero milagres. A fama das válvulas anuncia que possam ser parte da solução. 

Gente há que lhe basta que os graves lhes faça vibrar a casca de laranja na nádega ou o pneu na barriga. Neste Fezz, temos baixos diferentes. Definitivamente sem flacidez. Aqui só há fibra! Estes graves também integram lindamente e de forma linear com o resto das frequências do espetro sonoro! Esta linearidade é um dos trunfos deste Fezz. Um som equilibrado, que muitos chamarão de “analógico”, como que líquido, mas não lânguido ou arrastado. A não ser que a música o seja:

“This is it

underwater love

It is so deep

So beautifully Liquid

Fezz audio Silver Luna Prestige Evolution

After the rain comes sun

After the sun comes rain again

This must be underwater love

The Way i feel it slipping all over me

Follow me now

To a Place you only dream of

Before i came along”, Smoke City.

Tudo o que sejam vozes não processadas ou instrumentos não amplificados transformam-se em experiências absolutamente puras. E os instrumentos amplificados, máquinas e efeitos têm escala, textura e naturalidade.

Este Fezz tem cabedal! A potência anunciada de 35W a 8 Ohms engana por ser valor humilde face ao que se sente. Atingi picos de mais de 90dB a 2 metros e meio de distância das colunas, e com graves controlados, a ouvir Carmina Burana (Orff, New Phillarmonia Chorus & Orchestra, Rafael Fruhbeck de Burgos, 1966, cd EMI Classics) com o botão de volume na posição entre as 10h30 e as 11h. Sim, Carmina Burana ouve-se até os ouvidos sangrarem. O Fezz cumpriu sem mostra de esforço! Bateu-se com um integrado de 100W que cá esteve em simultâneo, e que se debateu para acompanhar os mesmos níveis de pressão sonora e compostura, com o botão de volume na posição de hora e meia. 

As válvulas EL34, normalmente associadas a um som quente, difuso, lento e suave, com o Silver Luna a tocar “O Fortuna”, e especialmente no “Fortune plango vulnera”, a funcionarem em modo tétrodo, soaram decididas, plenas de vigor e músculo, com o Coro e Orquestra Filarmónica bem definidos e coerentes. 

Mudo para streaming. Nina Simone, nova coletânea “Legendary Recordings”. Mudo para modo pêntodo. Copo de Speyside na mão. “I Put a Spell on You”. O ritmo desacelera, os ombros relaxam. “Don’t let me be Misunderstood”. A música é paixão. A paixão também pode ser contida. Exemplo de contenção é “Ne me Quites Pas”, “Don’t Explain” e “Lilac Wine”. Arrepio-me na última. Troca para tétrodos. “Feeling Good”. Volto a sentir-me encorajado, estimulado, bato o pé ao ritmo da música, a cabeça abana. O Fezz traduz e interpreta de forma perfeita o que Nina cantou e sentiu nestas músicas.

Mais um desafio. Desta vez um CD que não existe nos serviços de streaming, “All Systems Gone” de Presence, um dos heterónimos de Charles Webster, CD Ark21 1999. As letras do booklet são ilegíveis de tão pequenas (ou do Speyside…). As vozes de Sara Jay e Shara Nelson pedem um modo, as batidas pedem o outro, mas deixo-me estar como estou. Mas também não importa, pois seja qual for o modo bato o pé e abano a cabeça, a música flui e dou por mim a acompanhar Steve Edwards em falsetto. A música soa vívida, enérgica, o baixo de “Been 2 Long” firme, musculado e pontuado (absoluta surpresa, a quebrar os lugares comuns acerca da sonoridade valvulada), com instrumentos, máquinas e efeitos sonoros de ótima sonoridade e vozes limpas, mas com corpo e emocionais, e com o palco sonoro que as minhas monitoras permitem.

Já me ouviram aqui falar de amplificadores de som estéril, mas aqui esqueçam. Aqui estamos nos antípodas do estéril. Aqui está a minha conta cada vez mais perto de ficar sem 2600 euros…

Não consigo parar de ouvir. Volto ao streaming:

“I’m thrown and overblown with bliss

And suddenly my heart goes boom

It’s an orchestra of Angels

And they’re playing with my heart

Must be talking to an Angel

I’m thrown and overblown with bliss

There must be an Angel

Playing with my heart

And when I think that I’m alone

It seems there’s more of us at home

It’s a multitude of Angels

And they’re playing with my heart, yeah”, Eurythmics

Technical specifications:

Max. output power:

2 x 35W

Circuit type:

Push-pull class AB1

Output impedance:

4Ω / 8Ω

Inputs:

3 x RCA

Harmonic distortions THD:

< 0,35%

Frequency response:

15Hz-77kHz (-3dB)

Power consumption:

170W

AC fuse:

3,15A T

Net weight:

15,3kg

Dimensions:

410x320x165mm

Tubes:

EL34 x4 (power output), ECC83/6n2p x2 (pre-amp & drivers)

Bias adjustement type:

automatic

Optional equipment:

remote control, HT (pre-in) input, tube cage

Disponível em Portugal e Espanha através da Ultimate Audio Elite

Sistema utilizado:

Colunas monitoras > Triangle Borea 03

Control de ressonância nas colunas > Ansuz Darkz C2T

Cabos coluna > Ansuz Speakz X2

Amplificador integrado > Fezz Audio Silver Luna Prestige Evolution

Set de válvulas opcional (utilizado) > PSVane 4XEL34, 2X6N2P

Fontes digitais > MacBook Air, apple TV/TV Hisense (Apple Music+Tidal)

Cabo USB > Ansuz Digitalz X2

Cabos interconnect > Ansuz Signalz X2 RCA

Leitor CD > Pioneer PD-Z74T

Cabos corrente > Ansuz Mainz P2

Distribuidor de corrente > Ansuz Mainz X8-TC

harmonizadores de corrente > Ansuz Sparkz