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Então,… o Volumio Rivo ficou, ou não?

Read MoustachesToys English review of the Volumio Rivo here

Admito-o sem reservas: quando pedi ao distribuidor português um Volumio Rivo, não foi por simples curiosidade. Foi para responder a uma pergunta que não me saiu do pensamento desde que revi o irmão Volumio Primo: será que um streamer deste preço consegue mesmo pôr em causa máquinas que custam três, quatro, cinco vezes mais? A mim, esta dúvida criou-me muita comichão.

A verdade é esta: há só um laboratório onde as promessas morrem e a realidade começa: a sala de cada um. É assim para mim, e deveria ser para qualquer outro. Ali, não há marketing, só há um par de ouvidos.

Daí a pergunta que surge de imediato: Então, Vítor… o Rivo ficou ou não?”

Volumio Rivo

Os mais atentos ao meu percurso já estarão a sorrir, cientes da resposta. Os restantes vão ter de caminhar neste texto comigo até ao fim. Porque a resposta é simples, mas o percurso até ela é bem mais interessante do que imaginava.

Primeira Impressão

streamers que entram nas nossas salas com passadeira vermelha estendida; o Rivo prefere a discrição e a função. A sua caixa discreta parece dizer: “não estou aqui para brilhar, estou aqui para trabalhar.” O botão frontal, com LED que muda de cor conforme o estado do sistema, é a única nota visual, num fundo azul.

Tal como o Primo, o Rivo permite ligação a um monitor via HDMI, a um teclado e a um rato. Uma lembrança de que, por baixo da pele de cada streamer, vive um computador afinado para um único propósito: tornar a música mais pura.

Qualquer avaliação séria de um streamer divide-se, inevitavelmente, em duas frentes: Função e Som.

Ligações Digitais & Conectividade

Volumio Rivo Back Panel

Na traseira:

  • Entrada Ethernet RJ45 (complementada por Wi-Fi para maior flexibilidade)
  • USB e MicroSD para fontes de dados
  • Saídas digitais: USB, AES/EBU e coaxial
  • Entrada DC para fonte externa 5V/3A

Esta opção de alimentação externa é um convite para futuros upgrades: quem quiser elevar o Rivo mais um degrau pode escolher uma fonte de alimentação linear dedicada. Não a testei ainda, mas vocês têm de ter razões para voltar aqui a MoustachesToys num futuro próximo, não é?…

Saída analógica? Não! Este streamer pretende ser um transporte apenas, permitindo ligar-lhe um conversor ao gosto de cada um.

Até o discreto switch de energia parece alinhado com a filosofia do aparelho: fazer o essencial, sem chamar a atenção.

Interface & Experiência de Utilização

Se há palavra que descreve o Rivo no dia-a-dia, é estabilidade. Funcionou sem falhas com:

  • App Volumio
  • Roon
  • AirPlay
  • Qobuz Connect – onde, admito, ficou para sempre assim que esta função foi lançada

A interface Volumio já a explorei a fundo na review do Primo. Aqui importa outra coisa: a forma como o Rivo entrega o sinal digital ao conversor. É aí que esta máquina se distingue – não pela forma como a controlamos, mas pela forma como liberta a música para o DAC.

E agora sim, chegamos à pergunta inevitável:

A que soa o Volumio Rivo?

Ao longo de quase um ano, o Rivo tocou com tudo o que lhe coloquei à frente: Revival Atalante 3, a tríade omnidirecional da Duevel, o Accuphase E-280 residente, o Lyric Ti 100 single-ended a válvulas, os monoblocos Beard M70 MkII, o DAC Fezz Equinox, o Lab12 Reference 1 DAC, o Denafrips Pontus 15th Anniversary, o DAC do TEAC UD-701N, e até o conversor interno do Accuphase DP-450. Esta diversidade de parceiros ajudou-me a decantar aquilo que é verdadeiramente o seu som.

A Lente Polida

Quando liguei o Rivo ao DAC residente, o Equinox, a sensação foi imediata: este transporte não tenta criar imagem própria. Ilumina a música que já lá estava. É como limpar um vidro que antes dele julgava transparente: subitamente, há mais ar, mais profundidade, mais intenção na forma como cada som se apresenta.

A música ganha aquele espaço entre notas, por trás de onde se revelam as emoções.

USB — O Caminho Onde o Rivo Dança

Foi através da saída USB que o Rivo mostrou o que vale. O som fica coerente, o ritmo ganha um compasso seguro. O palco abre-se com naturalidade, como uma sala iluminada por janelas amplas: há luz, há profundidade, há leveza, há sensação de tridimensionalidade.

O grave pulsa e bate decidido e definido. As vozes materializam-se como esculturas banhadas por luz lateral. Os instrumentos ocupam o seu lugar, organizados, como músicos numa orquestra.

A cada DAC que liguei (Equinox, Pontus 15th, Lab12, integrados nos UD-701N ou DP-450), o Rivo manteve sempre o seu carácter fundamental: neutralidade e silêncio interior. Não colora. Não dramatiza. Revela.

SPDIF — Competente, Mas

A saída coaxial funciona de forma competente, mas não ao nível quase cinematográfico que o USB entrega. Pelo menos não com o cabo que tinha disponível. É como ver o mesmo filme num ecrã CRT: a história está lá, mas sem a mesma presença, sem a mesma textura de sombras e luz.

Para quem quer o Rivo no seu estado pleno, o caminho está escolhido: USB.

(A saída AES/EBU não foi testada por mim, mas na volta que o Rivo deu na casa de um amigo que usa esta ligação, este ficou convencido ao ponto de avançar para uma compra imediata.)

Espaço, Imagem e Profundidade — A Arquitetura da Música

O palco do Rivo é surpreendentemente maduro para o segmento onde se insere. A sensação é de arquitetura japonesa: linhas claras, vazio com propósito, silêncio que estrutura o espaço.

A tridimensionalidade é firme, os contornos surgem precisos (mais ou menos aguçados conforme o DAC). Há ar entre instrumentos. A música não soa digital (como agora é moda dizer), mas orgânica, como se de uma fotografia captada no tempo do analógico.

Mesmo em passagens densas, nada se atropela. Nada se dilui. A música não é uma parede de som. É uma escultura de Miguelângelo, com formas realistas e dramáticas, e veias salientes.

Dinâmica e Energia — Movimento Sem Esforço

Apesar do dramatismo e das veias salientes, o Rivo não impressiona dessa forma, mas pela delicadeza da energia contínua. As microdinâmicas (o piscar de olhos entre notas, a respiração num vocal) surgem nítidos, com clareza e naturalidade. Os transientes são rápidos, elegantes, limpos. Há uma sensação de presença física que nunca parece forçada.

Textura e Conteúdo Musical — A Pintura Interior

Se tivesse de escolher um fio condutor, seria este: coerência. Tudo faz sentido: as texturas, o detalhe, o silêncio. É como olhar para uma fotografia revelada em sala escura. As cores têm um tom natural, sem os exageros do digital.

Gravações medianas são o que são. Boas gravações florescem. As excelentes… expõem tudo.

Qobuz Connect — O Estado de Graça

Com o Qobuz Connect, o Rivo alcançou o seu estado de graça. Há mais nuance, mais densidade emocional, mais naturalidade harmónica. O palco estabiliza como uma câmara finalmente fixada num tripé.

A partir do momento em que esta função ficou disponível, confesso: não voltei a usar o Rivo de outra maneira.

Fica a curiosidade de o utilizar para ripar a minha coleção de CDs, e ouvi-los com a conveniência do streaming. Quando tiver tempo.

O Papel da Alimentação — A Respiração do Sistema

A fonte fornecida de origem é um brick de parede que poderia ser de um telemóvel. O gargalo mais evidente. Com outra fonte de alimentação, fica a promessa de o Rivo mostrar outra vitalidade.

Para mim é claro como a água que o Rivo foi desenhado para escalar. Fico a salivar de como soará com uma fonte de alimentação linear à sua altura. Fica aqui a promessa e o desafio ao importador de voltarmos a este assunto num futuro muito próximo.

Contextualização

Equipamentos há que nos fazem pensar em máquinas; o Rivo fez-me pensar em arquitetura. Talvez pela forma como organiza o espaço, talvez pelo silêncio interior que sustenta cada nota. Há nele algo de arquitetura japonesa. Não me refiro a minimalismo superficial, mas ao modo como o vazio é tratado como matéria.

Talvez seja por isso que, em sessões mais longas, dei por mim a recordar a primeira vez que ouvi um sistema de alta-fidelidade que me emocionou. Não era caro. Não era moderno. Mas tinha esta mesma qualidade rara: a capacidade de se retirar, para que a música ocupasse o lugar inteiro.

O Rivo partilha esse ADN. E isso é mais raro do que parece.

Prós e Contras

Depois de quase um ano de convivência, diferentes DACs, diferentes amplificações e colunas, a imagem é clara: o Volumio Rivo não quer ser o protagonista. Quer ser a luz de palco.

É um transporte que respeita o sinal, que lhe dá espaço, ar e coerência. Não colora. Não inventa. Revela.

Para o seu preço, é uma daquelas raras máquinas que parecem atravessar níveis de desempenho que não pertencem ao seu segmento, e que antes dele a muitos de nós só nos era permitido sonhar.

E quanto melhor o sistema onde o coloquei, mais o Rivo se revelou um aliado silencioso. Daqueles que se notam mais quando saem do sistema do que quando entram.

Prós

  • Qualidade sonora surpreendente pela faixa de preço
  • Palco profundo e tridimensional
  • Neutralidade: não acrescenta, não dramatiza, nada esconde
  • USB de nível elevado, com excelente estabilidade temporal e musicalidade
  • Integração perfeita com Qobuz Connect
  • Promessa de escalar com uma fonte linear externa ao seu nível
  • Construção discreta mas sólida
  • Interface estável e fácil de usar

Contras

  • Fonte de alimentação de origem “prende” o potencial do Rivo
  • Saída coaxial competente, mas sem magia, com o cabo que utilizei
  • Falta de display pode afastar alguns utilizadores

Afinal o Rivo ficou ou foi embora?

Mesmo para aqueles que não me têm seguido em 2025, a resposta à pergunta que coloquei no início deste trabalho será agora óbvia.

Sim, o Rivo ficou. Ficou, e é o atual transporte digital de referência no meu sistema

Especificações Técnicas

Volumio Rivo está disponível em Portugal através da Music Link

1 comentário em “Então,… o Volumio Rivo ficou, ou não?”

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