
Read MoustachesToys Stenheim Alumine Two.Five mini-review in English here
Lembro-me como se fosse ontem do meu primeiro embate com colunas vestidas de alumínio, aquelas Magico M2 que me olharam de cima enquanto eu fingia que percebia o que era aquela especificação de “alumínio aeronáutico”. Depois vieram as S3, do mesmo fabricante californiano, seguidas pelas Rockport Lyra e pelas Avior II… todas elas com a pompa de engenharia de ponta, como se tivessem sido desenhadas por engenheiros da NASA. Impressionantes! Claro. Mas também algo frias, e não apenas ao toque. Clínicas. Como um bisturi que corta, e nem sempre chega ao coração.
Foi só quando ouvi as Stenheim Alumine Three, emparelhadas com amplificação valvulada Octave, que senti algo a descongelar. Ainda assim, atribuí a sua “calidez” ao calorzinho das válvulas. Não era possível aquelas caixas suíças, feitas com precisão cirúrgica e linhas que parecem saídas de uma aula de arquitetura da Bauhaus, terem alma. Pois…
Spoiler alert: estava redondamente enganado.
A Audição Que Me Virou do Avesso
Na última edição das Sessions Xtreme da Ultimate Audio, sentei-me sem grande fé em frente às Stenheim Five SX, alimentadas por monoblocos Halcro. O que aconteceu depois… foi quase embaraçoso. Fiquei sentado, boquiaberto (pelo menos por dentro, que não se faz essas figuras no Palace Hotel do Estoril), a ouvir um par de caixas suíças de alumínio a fazerem-me sentir coisas. Em silêncio. No fim, a única coisa que me saiu foi um murro interno no ego: “vais ter de morder a língua, Vítor”.
“Mas pronto — Five SX”, pensei. “Umas torres de prestígio e preço astronómico (para a minha carteira). Qualquer sistema que custa o mesmo que um apartamento no centro do Porto tem a obrigação de soar como o paraíso”, voltou o preconceito, para justificar o que tinha ouvido ali. O verdadeiro desafio veio depois.
As Two.Five Entram em Cena

A Stenheim resolveu descer uns degraus no Olimpo e lançar as Alumine Two.Five, uma proposta mais “modesta”, dentro do universo habitual da marca, mas ainda assim com um preço que não se pede de ânimo leve.
Quando as vi ao vivo, senti o mesmo que quando vejo um relógio de luxo sem diamantes: há ali classe, mas é discreta. Nada brilha. Nada grita. São 45 quilos de alumínio suíço areado com humildade. Só se dão a conhecer quando a música começa.
E aí…
Quando o Som Te Dá Um Toque no Ombro

Logo nos primeiros minutos de escuta percebi: a alma das Five SX estava ali. Com um pouco menos de pulmão, claro, mas com o mesmo ADN. São colunas de chão de 2 vias, com dois woofers de papel de 6.5” e um tweeter de tecido de 1”, e 93 dB de sensibilidade que as tornam mais acessíveis do que se poderia imaginar (pelo menos do ponto de vista da amplificação).
Palco? É Cinema 3D, Meu Caro!
A imagem estéreo? É holografia suíça com precisão de relojoeiro. Mesmo em gravações densas, cada instrumento surge desenhado a tinta da china no espaço. Já não estamos a ouvir música; estamos lá dentro, entre os microfones. Ouve-se a sala, ouve-se o ar, ouve-se o que não está na partitura.
Timbre: Sem Frio, e Sem Açúcar (ok, talvez um cheirinho)

Aqui as Two.Five dão uma lição de equilíbrio. Revelam tudo, mas sem cair na obsessão clínica. Os timbres são verdadeiros. A música respira, tem sangue, e tem carne. Não há gordura nem artifício. O que sai é o que entrou, sem maquilhagem, mas com alma.
Micro e Macro Dinâmica: Faca Quente em Manteiga

As transições são suaves como um bom vinho aveludado, mas decididas como num shot. Do sussurro ao trovão, tudo flui com naturalidade, e com uma rapidez que assusta. Um segundo estás a ouvir o arquejo de um arco; no instante seguinte, os tímpanos levam um safanão. Zero distorção. Zero histeria. Apenas controlo suíço, mas com emoção.
O Momento Piano & Voz (aka O Momento da Verdade)

O verdadeiro teste: O piano. O piano teve peso e ar, aquele toque físico nas teclas, não só o som. E as vozes… as vozes, senhores! Posição tridimensional. Com corpo. Com massa. Articulação clara como água de riacho alpino. Não eram colunas a tocar, era gente a cantar, ali, ao alcance da mão.
Gravações Ao Vivo: Estar Lá Sem Estar
Numa gravação ao vivo, a Two.Five deixou cair o pano de vez: a sala, o público, a tensão no ar. Tudo lá. Uma máquina do tempo e espaço.
Amplificação: Não Precisa de nenhum Panzer

Com 93 dB de sensibilidade, estas meninas não são esquisitas. Tocaram divinamente com Halcro Eclipse Stereo, claro, mas não precisam de músculo extremo. Basta upstream de qualidade. E sim, o DAC 200 da T+A não se deixou intimidar pelo resto do conjunto de maior gabarito.
Veredicto: Levei Outra Facada no Orgulho

Saí destas audições com vontade de fazer contas à vida. As Two.Five foram uma chapada educada no meu preconceito com o alumínio. Fina, precisa, musical. Não se exibe, não exagera, simplesmente fez praticamente tudo bem. Transparência, coerência, escala, ataque, verdade. Mas, acima de tudo: MÚSICA.
Se tiver por aí 26 mil euros a ganhar pó, recomendo um desvio à Ultimate Audio para uma audição. Não garanto que saia de lá com elas, garanto é que sai de lá com muita vontade. Eu saí. Mais humilde. Mais feliz. E com a língua mordida.
O Sistema:

Colunas: Stenheim Alumine Two.Five
Amplificador de potência: Halcro Eclipse Stereo
Pré-amplificador: Halcro Equinox + LPSU externa
DAC: T+A DAC 200
Streamer: Cinnamon Audio Galle Network Transport
Tratamento de corrente: Isotek V5 Aquarius
Cablagem: Siltech Legend Series 680/880 e Crystal Cable Diamond series
Algumas das faixas que ouvimos:
- Fools Rush In, de Dean Martin
- Come Fly With Me (Live At The Sands Hotel And Casino/1966), de Frank Sinatra
- Trouble In Mind, de Archie Shepp & Horace Parlan
- Scarborough Fair / Canticle, de Simon & Garfunkel
- Surrender, de Birgitte Soojin
- Who Killed Cock Robin, de Greg Brown
- Laughing, de David Crosby
Sessões de audição efetuadas na Ultimate Audio Porto
Pingback: The Speakers That Made Me Eat My Words - MoustachesToys